Quais caminhos para uma candidatura de terceira via furar a polarização?
O esforço de ter uma alternativa tem que ser qualificado. O retorno ao passado ou ficar refém desse presente desastrado, desastroso, não são alternativas. É preciso que se pense um novo pacto político. O Brasil não pode continuar refém dos que vão pelo caminho de tudo quanto é benesse, do jeitinho. E, principalmente, do Centrão, que é um espécie de agente difuso, que não tem nome, endereço, e que a cada dia vai se apropriando das instituições, inclusive do orçamento público.
Vê algum nome da terceira via com esses valores?
A maior parte caminha ainda no debate em que a disputa é como fazer para ganhar o poder. Por enquanto, o debate não trata de questões estratégicas, como a Amazônia. Esse é um tema de qualquer discussão que queira integrar o Brasil ao debate que está acontecendo no mundo. É a partir daí que a gente pode pensar um novo ciclo de prosperidade, de desenvolvimento econômico e de investimentos de longo prazo. Até agora, o debate da sustentabilidade está aquém na maioria das candidaturas.
A contratação do marqueteiro João Santana implodiu seus diálogos com Ciro Gomes?
O Ciro tem feito um esforço de debater propostas, não só fazendo disputa política em si. Agora, a violência política, que é uma das estratégias mestras do João Santana, não é base de construção de absolutamente nada. Dificilmente, alguém conseguirá ser mais violento do que o Bolsonaro, talvez eles consigam empatar. A forma como a gente ganha determina a forma como governa.
Os ataques do Ciro ao Lula estão no tom adequado?
O debate tem que ser feito olhando para os vários nomes que estão se colocando na cena para 2022. Não apenas para o (ex-) presidente Lula.
A senhora não pretende mais disputar eleições?
Quero ver uma alternativa que seja construída no campo que tem compromisso com o novo pacto de sustentação para um novo ciclo de prosperidade econômica, social, ambiental, combate à desigualdade. Estou tentando ajudar nessa perspectiva. Eu já dei uma contribuição, já fui candidata por três vezes. Eu me sinto muito tranquila para participar do debate e identificar qual é a melhor alternativa.
Como vê a candidatura do ex-juiz Sergio Moro?
Não vejo o Sergio Moro como alguém que possa romper com esse pacto político do que há de mais atrasado no país. Ele deu uma contribuição como juiz em relação a investigar e punir poderosos. Infelizmente, deu com uma mão e tirou com a outra quando não obedeceu à risca o devido processo legal. Ele sai da condição de juiz e vai para o governo Bolsonaro. Qualquer pessoa com discernimento político sabia que o Bolsonaro não tem compromisso com a democracia, com o combate à corrupção e com qualquer avanço.
A senhora foi procurada pelo Lula nesse esforço dele de buscar atores de outros campos políticos?
Acho que o PT e o PSDB devem uma autocrítica à sociedade brasileira. São os dois partidos que ficaram mais tempo no poder após a redemocratização. No terreno que eles araram durante tanto tempo, o que nasce é a erva daninha Bolsonaro. Infelizmente, não vejo essa sinalização por parte do PT. Quando você não reconhece esses erros, a mensagem que se está passando é a de que vai continuar fazendo as mesmas coisas.