Em evento do PT de apoio à candidatura de Fernando Haddad (PT), em Fortaleza, o senador eleito Cid Gomes (PDT) cobrou um mea culpa do PT e disse que o partido perderá “feio” o segundo turno presidencial por não admitir que fez muita “besteira”. O ex-governador cearense e irmão de Ciro Gomes (PDT) foi vaiado por militantes petistas, chamados por ele de “babacas”, “é por isso que vocês vão perder”. Ele também responsabilizou o PT pelo crescimento de Jair Bolsonaro (PSL).
A discussão continuou do lado de fora do auditório onde foi realizado o ato. Militantes petistas jogaram faixas do PT sobre o pedetista. Houve tumulto entre aliados do ex-governador e petistas.
Apoio crítico
Ciro foi o candidato mais votado no primeiro turno da eleição presidencial no Ceará. Depois de declarar “apoio crítico” a Haddad, viajou para a Europa, frustrando a campanha do ex-prefeito de São Paulo que esperava um apoio mais explícito do terceiro colocado nas eleições para presidente.
Cid Gomes manifestou seu desconforto com a situação assim que foi chamado a abrir o evento. “Juro que não esperava que fosse eu que fosse abrir. Me colocaram numa situação constrangedora”, reclamou.
O ex-governador disse que não se sentia motivado a ir para a rua pedir voto para Haddad.
“Nós temos duas alternativas. Uma é a gente fazer de conta… Futebol é isso mesmo. Tem dois turnos e no segundo turno a gente tem de escolher. Para mim, tudo bem. Se é essa a alternativa, eu estou disposto, como aquele beija-florzinho da fábula do incêndio, a botar uma gotinha de água no bico e levar para apagar o incêndio. Se é essa a alternativa, muito bem. Podem ter certeza. O meu partido já tomou uma deliberação. Ora, eu já votei no Eunício (Oliveira). Para votar no (Fernando) Haddad, eu voto com muito mais prazer”.
Pedido de desculpas
Depois de elogiar o candidato petista, Cid cobrou que o PT reconheça seus erros.
“Eu conheço o Haddad, é uma boa pessoa. Mas aí fica para algum companheiro do PT que me suceda aqui na fala, que se quiser fazer um exemplo para o país, tem de fazer um mea culpa. Tem de pedir desculpas, tem de ter humildade e reconhecer que fizeram muita besteira”.
Parte da plateia, então, vaiou o ex-governador, que elevou o tom da voz. “Não admitir o mea culpa, os erros que cometeram, isso é para perder a eleição e é bem feito. Vocês deviam… o teu tipo, ué acha que fez tudo certo… Quem junto com ele acha que fez tudo certo…. Vão… Muito bem, muito bem. Pois vão, vão, vão e vão perder feio. Vão perder feio porque fizeram muita besteira. Porque aparelharam as repartições públicas. Porque acharam que eram donos de um país, e o Brasil não aceita ter dono”.
“Babaca”
Cid, então, atribuiu ao PT o surgimento de Jair Bolsonaro. “Quem criou o Bolsonaro foram essas figuras. Quem criou o Bolsonaro foram essas figuras que acham que são donas da verdade, que acham que podem fazer tudo, que acham que os fins justificam os meios. Muito bem, eu me calo, eu me calo numa boa. Não sei por que me pediram para falar antes. É para fazer faz de conta?”
O ex-governador reagiu diante de militantes que cantavam músicas de apoio ao ex-presidente Lula. “Lula, o quê? Lula tá preso, babaca”, respondeu. “Isso é o PT. E o PT desse jeito merece perder. Só para rimar. Se vocês estivessem… babaca, vai perder a eleição. É isso aí. É esse sentimento que vai perder a eleição”.
Encruzilhada
Segundo o senador eleito, o país está numa “encruzilhada”. “E dela pode sair um mal terrível para o Brasil, terrível. Que pode colocar em risco a liberdade das pessoas. A liberdade das pessoas de se expressar, de fazer sua opção de vida, qualquer que seja ela. Do outro lado, tem um candidato, que é sério, bem-intencionado, ama o Brasil, carrega um fardo pesado nas suas costas. Mas não vou mais falar disso. Estou falando a vocês para que compreendam. Engulam, os que me tiverem atenção, engulam. Façam mais esse sacrifício. Nunca mereceram. Nunca deram nada em troca.”
Cid Gomes disse que convidou a ex-presidente Dilma Rousseff, derrotada na disputa ao Senado em Minas Gerais, a se candidatar pelo Ceará. Mas o convite, segundo ele, foi rechaçado pelo ex-presidente Lula que defendia o apoio ao presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), que votou a favor do impeachment da petista em 2016. Integrante da mesma chapa de Cid e de Camilo, Eunício não conseguiu se reeleger.
“Agora, faltando seis meses, quatro meses para a eleição, eu convidei a Dilma para ser senadora, candidata aqui no estado do Ceará. Eu convidei. E o Lula impediu que ela viesse, porque queria que o Eunício (Oliveira) fosse eleito aqui no Ceará. O Lula. O Lula. Muito bem, amigos e amigas que me têm atenção. Vamos relevar mais uma vez. Mais uma vez, vamos relevar”.
Assista ao vídeo:
Congresso em Foco