Jair Bolsonaro foi interrompido 12 vezes por aplausos há duas semanas, quando um pedaço da elite empresarial do país se reuniu para ouvi-lo em evento organizado pela Confederação Nacional da Indústria com os presidenciáveis.
Em quatro momentos, o deputado afagou a plateia com promessas de diálogo. “Não faremos nada da nossa cabeça”, afirmou. “Os senhores na ponta da linha é que são os nossos patrões, e não nós de vocês.”
Ele também agradou ao propor a nomeação de generais em vez de ministros “terroristas e corruptos” e quando disse que não colocaria um busto de Che Guevara no Palácio do Planalto. A plateia riu de suas piadas em quatro ocasiões.
Uma única vez, Bolsonaro recebeu aplausos após propor algo. Chamado a apontar soluções para o déficit da Previdência, ele indicou as aposentadorias dos servidores públicos como cerne do problema, sugeriu aumentar o teto salarial para algumas carreiras e defendeu seu direito de receber auxílio moradia como deputado.
Cinco dias depois, o deputado estadual Flavio Bolsonaro, filho mais velho do candidato, comemorou uma decisão judicial que suspendeu o aumento da contribuição previdenciária dos servidores do Rio, uma das medidas tomadas pelo estado no ano passado para arrumar suas finanças.
“A conta de tanta incompetência e corrupção não tem que ser paga por você, servidor”, disse. “Seguimos fazendo a nossa parte, e contem sempre com a família Bolsonaro.”
Pai e filho erraram no diagnóstico e no remédio. Falta dinheiro para pagar os aposentados do Rio porque os gastos com seus benefícios aumentaram mais do que as receitas do estado, que diminuíram com a crise econômica e a queda dos preços do petróleo. Não foi a corrupção.
Aumentar o teto dos servidores e manter privilégios como o auxílio moradia, como Bolsonaro propôs, fariam o governo gastar mais com a elite do funcionalismo, sem equilibrar a Previdência. Se os empresários estão mesmo preocupados com ela, é difícil entender por que aplaudiram.
Folha Online