Um policial militar e dois comerciantes foram citados num relatório confidencial da Polícia Civil como suspeitos de envolvimento num novo plano para executar o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL). Os três homens são ligados a um grupo de milicianos da Zona Oeste, investigado pela Divisão de Homicídios (DH) pelo assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes.
O assassinato de Freixo, segundo o documento, aconteceria durante uma agenda programada pelo parlamentar para o próximo sábado em Campo Grande. Freixo encontraria com militantes e professores da rede particular de ensino, no sindicato da categoria. Os detalhes da atividade do parlamentar foram divulgados nas redes sociais e eram públicos.
Segundo o documento da Inteligência da polícia do Rio, ao qual O GLOBO teve acesso, os três nomes citados já eram investigados por um suposto vínculo em grupos paramilitares da Zona Oeste há pelo menos cinco anos. Também aparecem no controle de operações ilegais da máfia dos caça-níqueis e do jogo do bicho.
Um dos citados chegou a trabalhar como assessor e cabo eleitoral de um político investigado sob a suspeita de chefiar uma milícia naquela região. Uma das linhas investigadas pela DH para chegar aos responsáveis pela morte de Marielle e Anderson, aponta o envolvimento de políticos e grupos paramilitares da região nos crimes.
O relatório foi elaborado nesta quarta-feira e difundido para vários outros setores de Inteligência da Secretaria de Segurança do Rio. Receberam cópias policiais civis, militares e agentes da contrainteligência da Subsecretaria de Inteligência da pasta. O documento identificou os envolvidos e anexou fotografias de todos eles.
Marcelo Freixo revelou que cancelou sua agenda marcada para sábado assim que tomou conhecimento do relatório e das ameaças. A bancada nacional do Psol disse que irá procurar Rodrigo Maia e Sérgio Moro para garantir segurança de Freixo em Brasília .
— Há um grau de veracidade na ameaça. Eu tinha realmente um compromisso público no próximo sábado em Campo Grande, que obviamente vou cancelar. Mas o que chama a atenção, é que os milicianos continuam soltos, ameaçando e matando — ressalta Freixo.
O deputado também foi cauteloso, preferindo não relacionar o caso às investigações do assassinato de Marielle.
— Se há uma conexão desses nomes com o caso Marielle eu não posso dizer porque a investigação está sob sigilo — afirmou Freixo.
O parlamentar do PSOL lembrou que tem guardado centenas de ameaças e planos para assassiná-lo.
— Isso é que surpreende. Eu sou um deputado estadual eleito e estou sendo ameaçado mais uma vez. Não é uma ameaça ao Freixo, mas à democracia. Ao estado democrático. Não é uma questão pessoal, é muito mais que isso. A Zona Oeste está hoje sendo governada pelo crime — disse o parlamentar.
Com 342.491 votos, Marcelo Freixo foi o segundo deputado federal mais votado no estado do Rio nas eleições deste ano. Ele está no final do seu terceiro mandato na Alerj. Desde que presidiu a CPI das Milícias em 2008, passou a contar com proteção policial depois de receber inúmeras ameaças concretas de morte. No relatório final da CPI, Freixo pediu o indiciamento de 225 políticos, policiais, agentes penitenciários, bombeiros e civis. Também foram citados no documento uma série de sugestões e medidas para o enfrentamento de grupos paramilitares.
A descoberta do plano para assassinar o deputado estadual Marcelo Freixo acontece na véspera das mortes de Marielle e seu motorista completarem nove meses sem esclarecimento. Também nesta quinta-feira, policiais da DH estão nas ruas para cumprir mandados de prisão e de busca e apreensão em inquéritos que “transcorrem de forma paralela às investigações” do assassinato da vereadora. Os agentes estão em 15 endereços espalhados por vários lugares do Rio e fora do estado. Um dos alvos seria um especialista em clonagem de veículos .
Os policiais percorrem endereços na Zona Oeste do Rio, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense; em Angra dos Reis, no Sul do RJ; em Petrópolis, na Região Serrana; e em Juiz de Fora, em Minas Gerais.
De acordo com a Polícia Civil, a DH vem realizando várias operações policiais para checar “inúmeras informações de Inteligência que são coletadas ou transmitidas anonimamente para a unidade”.
Em nota, a Delegacia de Homicídios da Capital pediu que seja mantido “absoluto sigilo das apurações realizadas”, para garantir “o alcance dos autores e mandantes dos crimes investigados”.
O Globo