Às vésperas de concorrer pela terceira vez ao posto de presidente da República, Marina Silva, da Rede, desponta com 15% das intenções de voto em cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo a mais recente pesquisa Datafolha.
Marina estaria atrás apenas de Jair Bolsonaro, do PSL, que registra 19% das preferências. Marina, Bolsonaro e os demais candidatos deverão disputar os cerca de 30% de eleitores que ficarão sem candidato caso o rosto de Lula não figure na urna eletrônica em outubro.
Ex-ministra do Meio Ambiente de Lula e ex-integrante do PT, do qual saiu em 2009 após 30 anos de militância, Marina tem proximidade histórica com os simpatizantes do PT. No entanto, nos últimos anos, se afastou desse espectro político e passou a defender posições opostas às da legenda.
Marina apoiou o tucano Aécio Neves na disputa presidencial de 2014, foi favorável ao impeachment de Dilma Rousseff em 2016 e tem se mostrado entusiasta da Operação Lava Jato, o que pode dificultar sua aproximação em relação ao público órfão de Lula, condenado e preso no âmbito das investigações. “Não posso mudar de opinião de forma oportunista só para conquistar os votos daqueles que manifestem a intenção de votar nesse ou naquele candidato”, diz Marina.
Apesar dos bons números que apresenta nas pesquisas, a julgar pelos recursos, Marina terá pela frente a campanha mais difícil entre suas três tentativas de chegar ao Planalto. Se em 2010 obteve quase um minuto e meio de TV e, em 2014, contava com dois minutos e 20 segundos de propaganda televisiva, agora terá meros 8 segundos para falar diariamente ao eleitor.
Pelas negociações de coligação em curso, a ex-senadora pelo Acre terá que contar apenas com a estrutura da sua recém-criada Rede. O PSB, partido pelo qual ela concorreu no último pleito, faz acenos em direção a seu oponente Ciro Gomes (PDT). “Se hoje o PSB tem um entendimento de que não quer caminhar conosco, eu respeito a decisão deles”, diz Marina.
Sobre afirmações recentes do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de que seu nome não pode ser descartado como opção para o centro político, Marina diz que ele “não encontra eco dentro da estrutura do PSDB” e aproveita para alfinetar tucanos e petistas, acusados por ela de não fazer autocrítica. Mas garante que não terá “preconceito” com lideranças partidárias se vencer a disputa e compara seu futuro esforço de compor uma base governista no Congresso ao da chanceler alemã Angela Merkel, que levou seis meses para obter uma coalizão no Parlamento em 2018.
Auxiliada por dois economistas de inspiração liberal – André Lara Resende e Eduardo Giannetti – ela afirma que não privatizará nem a Petrobras, nem os bancos públicos. Promete rever a reforma trabalhista e alterar os parâmetros do teto de gastos aprovado por Michel Temer.
A reforma da Previdência sairia no começo de seu governo, defende. Em entrevista à BBC News Brasil, diz ser contra a legalização do aborto e a descriminalização das drogas. E favorável à intervenção do Exército na segurança pública do Rio de Janeiro. “Desconheço qualquer um que defenda que o Rio deveria ficar entregue à sua própria sorte”.
BBC News Brasil