A CPI da Covid ouvirá nesta quinta-feira (27) na condição de testemunha o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas. O instituto produz no Brasil a vacina CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac.
Entre outros temas, os senadores devem questionar Dimas Covas sobre a produção da CoronaVac e a relação do Butantan com o governo federal. A vacina se tornou alvo de uma disputa política entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria (leia detalhes mais abaixo).
Dimas Covas será a décima pessoa a prestar depoimento à CPI. O médico e pesquisador será ouvido na condição de testemunha, tendo que se comprometer a dizer a verdade, sob o risco de incorrer no crime de falso testemunho.
Entre outras pessoas, a CPI já ouviu todos os ex-ministros da Saúde do governo Bolsonaro (Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e Eduardo Pazuello), o atual, Marcelo Queiroga, além de ex e atuais funcionários do governo e um representante da Pfizer.
Disputa política
Em 2020, o Butantan buscou uma parceria com a China para pesquisa, produção e aquisição da CoronaVac, primeira vacina aplicada no Brasil, em janeiro deste ano, na cidade de São Paulo. A eficácia do imunizante varia, mas pode chegar a 62,3%, segundo estudo divulgado em abril.
A CoronaVac é a vacina mais aplicada no Brasil e, no ano passado, o imunizante virou alvo de disputa política entre Bolsonaro e Doria. O Butantan, dirigido por Dimas Covas, é ligado ao governo de São Paulo, mas também recebe recursos do governo federal.
Bolsonaro chegou a chamar o imunizante de “vacina chinesa de João Doria” e disse que não compraria a CoronaVac, desautorizando o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. O general havia anunciado, um dia antes da declaração do presidente, a intenção de comprar 46 milhões de doses. Depois, Pazuello afirmou: “É simples assim. Um manda e o outro obedece.”
A relação do governo federal com o Butantan e eventuais entraves gerados por atitudes do governo para a produção da CoronaVac serão temas de questionamentos dos integrantes da CPI para Dimas Covas.
O pesquisador já afirmou em entrevista que o Butantan teve dificuldade na assinatura de contrato para compra da CoronaVac, que levou mais de seis meses. Foi uma resposta a Pazuello que, na CPI, afirmou não ter havido intervenção de Jair Bolsonaro no processo.
Os senadores também vão querer saber se:
a política externa brasileira e ataques de autoridades a China atrapalharam a importação da matéria-prima necessária para a produção da CoronaVac;
houve inação ou omissão por parte do Ministério da Saúde em algum momento do processo de produção do imunizante;
o governo Bolsonaro ofereceu resistências ao trabalho do Butantan;
em que estágio está o desenvolvimento da ButanVac, candidata do instituto para ser uma nova vacina contra a Covid-19.
Próxima semana
Na próxima semana, a CPI da Covid deve ouvir os seguintes depoimentos:
Terça-feira (1º): Nísia Trindade, presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz);
Quarta-feira (2): Clovis Arns da Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
A Fiocruz produz a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford (Reino Unido) e a AstraZeneca.
A SBI, por sua vez, afirma que a cloroquina não tem efeito e deve ser abandonada no tratamento da Covid. Integrantes do governo, como Bolsonaro, defendem o uso do medicamento.
G1