Apesar da polarização na qual o país se encontra às vésperas das eleições, a terceira via, com a escolha de um candidato de centro, ainda pode encontrar terreno. Especialistas afirmam que, mesmo com poucas chances, não é impossível que chegue ao topo um presidenciável mais moderado, como Ciro Gomes (PDT) ou Geraldo Alckmin (PSDB). Contudo, a probabilidade é pequena. Candidatos de centro tiveram o espaço encolhido por Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Segundo análise da Prospectiva Consultoria, há cerca de 30% de possibilidade de um nome de centro subir nas pesquisas. Isso porque há ainda um alto número de indecisos e outros eleitores que podem mudar o voto na última hora.
Além disso, ainda com base na sondagem do instituto, há 5% de indecisos e 6% do eleitorado que devem votar em branco ou nulo. Na reta final da campanha, postulantes tentavam convencer essa parcela da população, que pode fazer a diferença no resultado do pleito. Ademais, há pessoas que decidiram pelo “voto útil” para tentar não eleger Bolsonaro ou Haddad, enquanto outras pretendem votar em um terceiro nome com o objetivo de conter os dois.
Para o cientista político Thiago Vidal, a mobilização em torno de Ciro pode surtir efeito, porque a diferença entre ele e o petista é de aproximadamente 10 pontos percentuais. Tecnicamente, um novo segundo lugar pode ser viável. “Para a terceira via ser uma opção, é preciso ter essa diferença de até 10 pontos. Se analisado por essa lógica, faz sentido. O problema é que há também votos que iriam para Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB), que podem se tornar ‘votos úteis’ e ir para Bolsonaro”, justifica.
Vidal, contudo, afirma que as chances de Bolsonaro e Haddad irem ao segundo turno é mais expressiva, com 70%. Na última pesquisa de intenção de voto de 2014, às vésperas do pleito, Dilma Rousseff (PT), que tinha 34%, passou com 40%. Aécio, que mantinha 24%, ficou com 34%. No entanto, o cientista político chama a atenção para um novo contexto político, em que o eleitorado está polarizado e o voto útil se torna uma opção: “Nada se garante nas pesquisas. Em 2014, elas não foram muito precisas, mas também não havia tanto extremismo”.
Assim como Vidal, o analista político Creomar de Souza afirma que uma mudança ainda é possível, mas com chances reduzidas. Isso porque, na democracia e na eleição, quem escolhe é o povo — e as pessoas mudam de ideia quando chegam às urnas. “Candidatos de centro não emplacaram porque houve uma erosão nas alternativas de voto, a partir do extremismo. Ficou tudo muito confuso, sobretudo com o agravamento da crise econômica e de segurança do país”, complementa.
Segundo Souza, o cenário como está mostra a resposta dos cidadãos: a busca por soluções fáceis para problemas extremos. “O ambiente está muito dividido. Há o voto envergonhado, o voto útil e o voto ideológico. Fora as abs-tenções. Mas pode ser que uma parte da população busque uma opção mais moderada. Embora não pareça ser o destino mais forte no horizonte”, observa.