A direita conservadora brasileira parece prestes a demonstrar que está mais organizada e que dispõe de maior poder de mobilização do que a esquerda e outras forças sociais.
Organiza-se para o próximo fim de semana a Marcha da Família Cristã pela Liberdade. A ideia é promover grandes manifestações em pelo menos 100 cidades em defesa das pautas conservadoras e do governo de Jair Bolsonaro. Grupos em defesa do presidente vêm tentando, mas não estão conseguindo. A Marcha da Família Cristã pode conseguir.
A diferença está em que os organizadores da Marcha estão contando com a articulação de cerca de 100 grupos conservadores e agora impingem tom mais religioso ao movimento.
Além disso, a manifestação estaria sendo preparada como embrião de uma entidade permanente para tentar dar unidade aos grupos de direita – o Foro Conservador -, que terá personalidade jurídica, coordenação nacional e seções estaduais.
A inspiração do movimento de agora é a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, de março de 1964, que ocupou as ruas “contra o comunismo” e o governo de João Goulart.
O movimento conservador de 1964 foi a grande base de apoio social do golpe militar. Tanto que chegou a reunir 1 milhão de pessoas no Rio de Janeiro no dia 2 de abril e ali, depois do golpe, já se intitulou como “marcha da vitória”.
O principal organizador do Foro Conservador, o publicitário Lúcio Flávio Rocha, assume que a mobilização também terá o caráter de defesa da reeleição de Bolsonaro. Segundo ele, após a volta de Lula, “a única opção que a família brasileira tem é reeleger o presidente”.
Pelo visto, a direita conservadora brasileira, que, historicamente, sempre teve dificuldades de nomes para liderar assumidamente no campo da política partidária e de unidade nacional, avança em poder de organização e de potencial de mobilização. Sem liderança na década de 60, o movimento conservador ganhou a intervenção do Exército. Agora, com Bolsonaro, ganhou rosto político. Com uma entidade, ganhará estrutura.
Do outro lado, a esquerda atua dividida em vários partidos políticos, e o centro, que seria necessário para evitar a polarização dos extremos, como ocorre em muitos países, não consegue se estruturar nem apresentar contornos, com nomes e posições mais definidas.
Por Josival Pereira
(Texto originalmente publicado no portalcorreio.com.br)