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Fãs de Bolsonaro usam imagem de torturador para promover o presidenciável

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Primeiro militar a ser reconhecido pela Justiça como torturador durante a ditadura, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932-2015) é homenageado em camisetas vendidas em lojas virtuais que apoiam Jair Bolsonaro (PSL). Morto em outubro de 2015, o coronel aparece na estampa das camisetas como um ícone pop. Sua imagem, estilizada em forma de cartum, é ladeada pelas palavras “Ustra Vive”.

O nome do coronel passou a ser associado a Bolsonaro desde que o deputado federal justificou seu voto pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 17 de abril de 2016, em nome “da memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra”, que seria “o pavor de Dilma”. A fala provocou protestos e aplausos em plenário, com repercussão imediata nas redes sociais, contra e a favor da homenagem ao torturador.

Na época, pelo menos duas lojas aproveitaram o filão e começaram a produzir camisetas com o rosto do coronel. O boom de vendas foi instantâneo. Em poucos dias foram mais de 300 camisetas vendidas pela loja “Direita Store”, o que é considerado um número expressivo para o dono da marca, José Leão, de Barueri (SP).

“A ideia é provocar esquerdistas”, disse Leão ao Congresso em Foco. Sua loja vende três modelos de camisetas que remetem a Ustra, com preço entre R$ 28,90 e R$ 49,90.

“Eu tinha uma loja de camisetas de super-heróis e o faturamento não estava bom. Resolvi focar no nicho da direita. Eu sou de direita e via muita gente reclamando que fazia falta produtos assim. Deu certo e o negócio está rendendo”, diz o empresário. Ele não costuma usar as roupas da sua marca, pois prefere camisas do tipo social.

Para Denise Bueno Amaral, de Caçapava (SP), da loja “Camisetas Opressoras”, os produtos com nome do coronel seriam uma brincadeira. “É uma sátira. Achamos engraçado que as pessoas nos questionam por causa do Ustra, mas ninguém fala nada quando se usa uma camiseta do Che Guevara, do Carlos Marighella, que também são acusados de atos violentos”, disse à reportagem. “Só vou deixar de produzir [o modelo de Ustra] quando acabar a demanda.”

O nome da loja, segundo ela, é uma resposta às pessoas que dizem que todo mundo de direita é “opressor”. “Eu vou oprimir pacificamente” é a estampa de uma caneca vendida no site. Bolsonaro e seus filhos já apareceram em eventos usando camisetas da marca, o que Denise considera “uma grande honra”.

“Admiração”

As duas lojas virtuais vendem prioritariamente produtos que exaltam a campanha de Bolsonaro. Ambas dizem não ter qualquer relação com o militar, “a não ser a de admiração”.

Passados dois anos do pronunciamento de Bolsonaro, as camisetas continuam vendendo consideravelmente, a ponto de não serem retiradas do catálogo de produtos. De acordo com os dois empresários, a procura pelas camisetas não é muito grande, mas constante.

Até o momento, dizem, as duas marcas nunca foram questionados judicialmente por causa das estampas das camisetas. Ambos relatam sofrer críticas de internautas que se sentem ofendidos, mas não chegam a responder, uma vez que os próprios apoiadores da causa já o fazem.

“Quem critica está no direito de não gostar do nosso trabalho. Mas para cada um que não gosta, tem dez que gostam”, comentou Amaral.

Apologia a crime

Para o advogado Antonio Rodrigo Machado, presidente da Comissão de Legislação Anticorrupção da seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/DF), os empresários deveriam se preocupar com possíveis representações criminais. Para ele, a homenagem a Ustra pode ser considerada como publicidade ou apologia a crime de ódio – no caso, a tortura.

“A liberdade de expressão permite que todos possam emitir opiniões. Uma das poucas limitações é quando é usada para a prática de ideias de crimes de ódio. E Ustra é reconhecido oficialmente como um dos que organizaram atos de tortura”, diz o advogado.

Quem foi Ustra

O coronel Carlos Brilhante Ustra foi comandante do Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) de São Paulo, um dos aparelhos mais violentos da repressão militar, entre 1970 e 1974. Foi acusado pelo Ministério Público Federal por envolvimento em crimes de tortura e assassinato, como o assassinato do militante comunista Carlos Nicolau Danielli, sequestrado e torturado nas dependências do órgão.

Em maio de 2013, ele compareceu à sessão da Comissão Nacional da Verdade. Negou que tivesse cometido qualquer crime e disse que recebeu ordens de seus superiores no Exército para fazer o que foi feito, e que suas ações à frente do órgão tinham como objetivo o combate ao terrorismo. Ustra afirmou ainda que os militares que participaram da ditadura militar no Brasil “defendiam a democracia”.

O militar morreu aos 83 anos, vítima de câncer e complicações cardíacas.

 

Congresso em Foco

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