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Ex-vereador Girão é preso em SP e pode acelerar elucidação completa do caso Marielle; entenda

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prisão de Cristiano Girão, ex-vereador, ex-bombeiro e ex-chefe da milícia de Gardênia Azul, na Zona Oeste do Rio, na manhã desta sexta-feira, pela Polícia Civil do Rio pode acelerar na elucidação completa do Caso Marielle. Estão sendo feitas buscas e apreensões em 14 locais, no Rio e São Paulo, pelos agentes da Delegacia de Homicídio da Capital (DHC), que devem trazer mais provas de que a ordem para matar a vereadora Marielle Franco (PSOL), tenha partido de Girão. Por enquanto, o vínculo mais forte é de que o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa, réu no duplo homicídio, teria sido o responsável pela execução do ex-policial André Henrique da Silva Souza, o André Zóio, e sua companheira, Juliana Sales de Oliveira, de 27 anos, crimes ocorridos em 14 de junho de 2014. Girão é apontado como o contatante de Lessa para o crime.

A Força-Tarefa do Caso Marielle e Anderson (FTMA) do Ministério Público do Rio (MPRJ) e a DHC pediram à justiça a prisão de Girão e Lessa pela morte de Zóio, no início do mês. Na época em que os pedidos forma feitos, estavam à frente do Caso Marielle as promotoras Simone Sibílio e Letícia Emile, e o delegado Moysés Santana, exonerado do cargo. As promotoras entregaram os cargos alegando “interferências externas” no caso. As investigações apontam que a razão do ex-vereador mandar matar Zóio foi uma disputa pelo controle da Gardênia. A prisão de Girão foi feita pelo atual titular da DHC, Henrique Damasceno. Os mandados de prisão foram expedidos pelo juiz do 3º Tribunal do Júri, Alexandre Abrahão.

André Henrique da Silva Souza, o Zoio, ex-PM vítima de uma emboscada na Gardênia Azul Foto: Reprodução
André Henrique da Silva Souza, o Zoio, ex-PM vítima de uma emboscada na Gardênia Azul Foto: Reprodução

A operação é vista na polícia como um passo decisivo na elucidação do caso Marielle. Os investigadores acreditam que as buscas em celulares e computadores de Girão e de cúmplices, alvos da operação, possam trazer as evidências que faltam para fechar o caso. A vereadora e seu motorista Anderson Gomes foram executados numa emboscada em março de 2018. Autorizada pelo juiz Alexandre Abrahão, do 3º Tribunal do Júri, a prisão de hoje junta, num mesmo episódio, Girão, um dos personagens denunciados pela CPI das Milícias, conduzida em 2008 pelo então deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), e Lessa, um dos acusados pela execução de Marielle Franco. A parlamentar era ex-assessora e afilhada política de Freixo. Era ela quem ouvia as famílias, vítimas da ação de milicianos, à época da CPI.

Policiais cumprem mandado de busca e apreensão na casa onde estava o ex-vereador Cristiano Girão, em Arujá (SP) em 09/09/2020 Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Policiais cumprem mandado de busca e apreensão na casa onde estava o ex-vereador Cristiano Girão, em Arujá (SP) em 09/09/2020 Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

Embora Girão more com a atual mulher em São Paulo desde que foi solto em 2017, ele não teria desistido de manter o controle da Gardênia. Segundo um informante da DH, cujo nome está sendo mantido em sigilo, André Zóio morreu porque estaria desafiando Girão, aproveitando-se de sua ausência para assumir o poder na região. No entanto, segundo a polícia, num acordo feito em 2017, Girão deixou o comando da favela com o seu subordinado Leandro Siqueira de Assis, conhecido como Leandro Cabeção ou Gargalhone. O ex-vereador, no entanto, continua tendo vínculos com a Gardênia de onde recebe aluguéis de pelo menos 100 imóveis.

O pedido de prisão de Girão foi feito ao juiz do 3º Tribunal do Júri, Alexandre Abrahão, antes de as promotoras da FTMA Simone Sibílio e Letícia Emile pedirem para sair do caso, e da exoneração do titular da DH Moysés Santana. As investigações já estavam concluídas desde a semana passada. Segundo fontes, as promotoras deixaram os cargos alegando “interferências externas” da Polícia Civil no MPRJ. Já Santana foi substituído pelo delegado Henrique Damasceno.

Leandro Siqueira de Assis, o Leandro Cabeção ou Gargalhone, subordinado de Girão Foto: Reprodução
Leandro Siqueira de Assis, o Leandro Cabeção ou Gargalhone, subordinado de Girão Foto: Reprodução

Em setembro do ano passado, Girão e Gargalhone foram alvos da operação Déjà vu, que apreendeu documentos da casa de ambos. As provas, somadas ao depoimento da testemunha, foram suficientes para convencer o juiz da 4ª Vara Criminal do Rio, Gustavo Kalil, a expedir os mandados de prisão dos dois e do sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa. Dos três, apenas Girão se encontrava solto.

Morte em emboscada Foto: Editoria de Arte
Morte em emboscada Foto: Editoria de Arte

André Zóio e a companheira Juliana Sales de Oliveira sofreram uma emboscada na Gardênia quando o miliciano a levava para o trabalho. O casal foi morto com 40 tiros dentro de um Honda Civic prata, dirigido por Zóio, que foi fechado por uma Fiat Doblo prata ocupada por três homens em frente à sede da Associação de Moradores local.

Veículo onde estavam Zóio e a mulher com marcas de tiros: para a polícia, crime teve a assinatura de Ronie Lessa Foto: Thiago Lontra em 14/06/2014 / Agência O Globo
Veículo onde estavam Zóio e a mulher com marcas de tiros: para a polícia, crime teve a assinatura de Ronie Lessa Foto: Thiago Lontra em 14/06/2014 / Agência O Globo

As investigações sobre a morte do casal chegaram aos suspeitos Girão e Lessa após o resultado da quebra do sigilo de dados telemáticos do policial, autorizada pelo juiz Gustavo Kalil devido ao caso Marielle. Lessa é réu junto com o ex-PM Élcio de Queiroz como autor dos homicídios da parlamentar e de Anderson. Chamou a atenção dos investigadores o fato de o sargento reformado ter usado o buscador Google para pesquisar, em 2018, a morte de Zóio e de Juliana. Foi o fio da meada para apurarem o motivo do interesse do acusado de matar Marielle no crime do suposto rival de Girão. Provavelmente, para saber, por meio da imprensa, o que a polícia havia investigado até então.

Morte de Robocop: peritos na cena do crime, que aconteceu em plena tarde em um bar no Anil, em 2019 Foto: Domingos Peixoto / Agência O GLOBO
Morte de Robocop: peritos na cena do crime, que aconteceu em plena tarde em um bar no Anil, em 2019 Foto: Domingos Peixoto / Agência O GLOBO

Entre os investigados pela DH e o MP, também estão o ex-policial civil Wallace de Almeida Pires, vulgo Robocop (morto em julho de 2019); Luiz Paulo de Lemos Júnior, o Chupeta ou Juninho; e o PM Fábio Santana, o Fabio Caveira. Fábio já foi preso pelo desaparecimento da engenheira Patrícia Amieiro, ocorrido em junho de 2008.

Robocop era apontado como sócio de Girão no comando da organização criminosa. Ele teve a prisão preventiva decretada em dezembro de 2009, durante a Operação Perfume de Gardênia, e foi expulso da Polícia Civil em 2012, sob a acusação de integrar a organização criminosa. Em julho do ano passado, Robocop e o PM João Ricardo Silva de Souza, do 18º BPM, foram assassinados com pelo menos 18 tiros no bar conhecido como Pensão da Jô, na Rua Soldado Genaro Pedro Lima, no bairro do Anil, em Jacarepaguá, vizinho à Gardênia Azul. Uma das linhas de investigação da polícia é que ambos possam ter sido mortos como queima de arquivo.

 

O Globo

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