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Ex-mulher de Bolsonaro alega ter sido ameaçada de morte pelo deputado

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Relatórios despachados em 2011 da Embaixada do Brasil em Oslo, na Noruega, para a sede do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, revelam que Ana Cristina Valle, ex-mulher do candidato Jair Bolsonaro (PSL), alegou ter sido ameaçada de morte por ele. Os telegramas, como são chamados no jargão diplomático esses textos datados de julho daquele ano, mostram os movimentos do capitão reformado do Exército para conseguir ter acesso à localização da mulher com quem se relacionou por uma década e do filho de ambos, Jair Renan, então com 13 anos.

O menino viajou sem autorização dele. Na época, ao explicar os motivos que a levaram a sair do país, Ana Cristina disse que “havia sido ameaçada de morte pelo pai do menor”, no que o então embaixador brasileiro na Noruega, Carlos Henrique Cardim, completou: “Aduziu ela que tal acusação poderia motivar pedido de asilo político neste país”.

Cardim assinou o telegrama. Diplomata e professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), ele atesta o diálogo entre a ex-mulher de Bolsonaro e o vice-cônsul Mateus Henrique Zóqui, apesar de informar que não participou diretamente do caso. Segundo Cardim, Bolsonaro fez contato direto com ele naquele período, depois de procurar o Itamaraty, para tratar do caso envolvendo o filho Renan. O contato com Ana Cristina ficou a cargo de Zóqui, responsável por esse tipo de assistência. Um dia depois de enviar o último relatório, o embaixador entrou de férias e veio para o Brasil. Devido a questões pessoais, acabou não voltando mais para o país europeu, assumindo logo depois o cargo de assessor internacional do Ministério dos Esportes.

Reportagem do jornal Folha de S. Paulo, publicada na semana passada, revelou os detalhes de como Bolsonaro mobilizou a estrutura do Ministério das Relações Exteriores para atender interesses pessoais, envolvendo a relação com a ex-mulher. O documento, ao qual o Correio também teve acesso, demonstra os detalhes das conversas entre Ana e representantes do Itamaraty. De acordo com o memorando, ao ser informada que poderia responder, no âmbito da Convenção de Haia, pelo sequestro internacional de menores, a advogada considerou que o vice-cônsul estava agindo em nome de Bolsonaro.

No entanto, no decorrer da conversa, ela foi ganhando confiança e informada que também poderia recorrer a assistência consular, depois de ser informada que ela também poderia ser assistida pelo serviço consular. Ana disse então que “ter deixado o Brasil há dois anos ‘por ter sido ameaçada de morte pelo pai do menor’ ”.

No contato que teve como Itamaraty, de acordo com os documentos, Bolsonaro disse que Renan viajou com um passaporte sem o sobrenome do pai. Esse documento foi feito com base na certidão de nascimento registrada antes do reconhecimento da paternidade. O deputado afirmou na época que “o gesto constituiria falsidade ideológica com intuito de sequestro”.

Em conversa com a reportagem do Correio, Ana Cristina negou ter feito as acusações ou ter sido contatada pelo consulado brasileiro. “Nunca fui ameaçada de morte por ele. Eu não fui contatada pela embaixada na época. O governo da Noruega que ligou para o meu marido, que hoje mora comigo aqui no Brasil. Hoje eu mantenho uma relação boa com Bolsonaro. Toda separação é meio difícil. Existem mágoas, um pouco de brigas, e na minha não foi diferente. Mas hoje em dia estamos muito bem”, afirmou. Ela já vivia na época com o norueguês Jan Raymond Hansen, com quem está até hoje.

Procurado pelo Correio, por meio de sua assessoria, o deputado Jair Bolsonaro não atendeu as ligações da reportagem, tampouco respondeu as mensagens. Zóqui, funcionário do Itamaraty, também se recusou a dar detalhes sobre o ocorrido. O Itamaraty não quis se pronunciar.

Em campanha

Na época, ao ser informado sobre a ida da ex-mulher com o filho para a Europa, Jair Bolsonaro procurou o setor do Itamaraty que é destinado ao atendimento das demandas dos parlamentares. Para receber atenção da pasta, os assuntos devem estar ligados diretamente ao exercício do mandato legislativo. De acordo com o próprio site do Itamaraty, o órgão não pode “interferir em questões de direito privado, como direitos do consumidor ou questões familiares”. Mas o embaixador Cardim afirmou que o tipo de auxílio que foi dado ao deputado é algo que o serviço diplomático faria por qualquer brasileiro.

Jair Renan, hoje com 20 anos, vive no Brasil, com a mãe. Ana Cristina trabalha na Câmara de Vereadores de Resende (RJ). É candidata a deputada federal pelo Podemos, e utiliza as redes sociais para fazer campanha. Apesar de não ter adotado no registro civil o nome do capitão reformado, ela se identifica nas redes sociais e nos materiais eleitorais como Cristina Bolsonaro. “Eu tenho um pensamento muito parecido com o dele. Ele me incentivou a fazer faculdade e comecei a atuar no direito militar”, disse.

Correio Braziliense

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