Os Estados Unidos anunciaram hoje a proibição da entrada de estrangeiros vindos do Brasil em seu território. A medida é válida para viajantes que não são norte-americanos e foi tomada após o Brasil se tornar o segundo país com maior número de pessoas infectadas pelo novo coronavírus.
Segundo secretária de imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany, as novas restrições visam garantir que estrangeiros não aumentem o número de infecções no país, que hoje é o mais afetado pela doença e tem 1.639.872 casos oficiais e 97.672 mortes, segundo a Universidade Johns Hopkins.
A decisão não afeta o fluxo comercial entre os países.
“Não quero as pessoas vindo até aqui e infectando o nosso povo. E também não quero pessoas doentes lá. Estamos ajudando o Brasil com ventiladores… O Brasil está enfrentando problemas, não há dúvidas sobre isso.” Donald Trump, presidente americano, sobre o Brasil.
A expectativa para o anúncio da medida começou na última terça após uma fala de Trump. Naquele dia, o Brasil tinha 271.885 casos e 17.983 mortes confirmadas. Neste domingo, o Ministério anunciou 363.211 casos confirmados e 22.666 óbitos em decorrência da doença. A decisão vale para cidadãos não americanos que visitaram o Brasil nos últimos 14 dias, período de incubação do novo coronavírus. Portadores de green card, documento que garante residência permanente no país, familiares de norte-americanos e membros de tripulação dos voos poderiam ser exceções à regra.
Hoje, Robert O’Brien, um assessor do presidente Donald Trump já havia falado a uma emissora norte-americana sobre a possibilidade do veto, confirmado agora. “Esperamos que seja temporário, mas, devido à situação no Brasil, vamos tomar todas as medidas necessárias para proteger o povo americano”, disse. Os Estados Unidos já interromperam viagens a partir da China, Europa e Reino Unido à medida que o vírus se espalhava nessas áreas.
Ernesto Araújo anunciou doação de respiradores hoje
Pouco antes do anúncio feito pela Casa Branca, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, anunciou em suas redes sociais que conversou com representantes do país norte-americano que lhe informaram da doação de 1.000 respiradores ao Brasil. Não foi estipulada uma data para a chegada dos equipamentos. Os respiradores são considerados essenciais para o combate ao coronavírus porque não há remédios para a infecção. O equipamento é vital para manter o paciente vivo, mas com a pandemia atingindo dimensões globais os aparelhos ficaram escassos e caros.
Os Estados Unidos foram criticados por sua postura de garantir meios para tratar sua população e ignorar contratos assinados antes. Governador de São Paulo, o estado mais afetado pela doença, João Doria (PSDB) já havia reclamado de que o governo americano estava confiscando respiradores que eram embarcados em aviões de empresas aéreas dos Estados Unidos.
Em 1º de abril, o ministro brasileiro afirmou, em entrevista coletiva, que Trump havia antecipado ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), sobre o combate à pandemia: “O presidente Trump se colocou à disposição para cooperação com o Brasil no que for necessário, na parte de de logística e parte médica, o que pode ser muito importante dada as capacidades dos Estados Unidos”, afirmou.
Assessor da Presidência diz que há “histeria” da imprensa
Assessor Especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Filipe Martins foi um dos primeiros membros do governo Bolsonaro a se pronunciar sobre o anúncio. Segundo ele, o país segue “parâmetros quantitativos previamente estabelecidos”. “Não há nada específico contra o Brasil”, escreveu em uma rede social citando “histeria” da imprensa.
Em nota, Júlio Serson, secretário de Relações Internacionais do Governo de São Paulo, comentou a decisão e afirmou estar em contato com as autoridades consulares para ” reduzir os impactos dessa medida sobre os brasileiros que, por motivos profissionais ou familiares, precisam se deslocar para os Estados Unidos, e garantir que os fluxo de comércio seja mantido.”
“Em São Paulo, estamos agindo com a responsabilidade que a situação requer, com respaldo na ciência e na medicina. Salvo em situações excepcionais, nossa recomendação segue sendo, a todos que puderem, fiquem em casa para conter a transmissão do vírus. Toda viagem não essencial deve ser evitada.”
Já a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), criticou a reação de parte do governo: “O governo tenta minimizar a porta fechada por Donald Trump ressuscitando a conversa sobre doação de respiradores para o Brasil. Não há nada confirmado e sequer uma data prevista para a entrega”.
Trump já havia falado sobre a crise no país Em 28 de abril, o presidente americano já havia citado que considerava banir a entrada de pessoas vindas do Brasil em seu país. Em uma reunião om o governador da Flórida, Ron DeSantis, o republicano disse que o governo está “olhando muito de perto” para o assunto da testagem. O Brasil é um dos países que mais aplica testes em sua população no mundo.
“O Brasil tem praticamente um surto, como vocês sabem (…) se você olhar os gráficos você vai ver o que aconteceu infelizmente com o Brasil. Estamos olhando para isso bem de perto”, disse Trump à época.
No mesmo dia, Jair Bolsonaro reagiu à possibilidade de veto: “Eu não concordo com nada nem discordo. O que ele [Trump] achar que tem que fazer no país dele, ele faz”, disse.
Dois dias depois, o americano voltou a tratar do cenário brasileiro em coletiva de imprensa.
“Eu odeio dizer, mas o Brasil está muito alto, o gráfico está muito, muito alto. Lá em cima, quase vertical”, afirmou o americano, que seguiu: “O presidente do Brasil é realmente um bom amigo meu, um ótimo homem, mas eles estão vivendo um momento muito difícil”.
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