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EM PLENA PANDEMIA: Objetivando reeleição, Bolsonaro intensifica viagens e oposição bate em contradições

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A pouco mais de dois anos do primeiro turno da próxima eleição presidencial, Jair Bolsonaro (sem partido) já vestiu o uniforme de candidato à reeleição e trocou a bolha das redes sociais pelo contato com o público em inaugurações de obras pelo país.

O contexto ainda é de pandemia e a Covid-19 já matou mais de 100 mil pessoas no Brasil, mas, geralmente sem máscara e provocando aglomerações, nesta terça-feira (18) Bolsonaro chega à sua 16ª viagem oficial do ano –contabilizadas apenas aquelas que foram divulgadas à imprensa.

Dez delas foram realizadas em julho e agosto

O número de pousos e decolagens só não foi maior porque o presidente teve de ficar trancado por cerca de 20 dias no Palácio da Alvorada após ser infectado pelo coronavírus.

Bolsonaro anunciou nesta segunda-feira (17), em Sergipe, que também irá ao Rio Grande do Norte ainda nesta semana. Nesta terça, ele estará em Corumbá (MS).
O presidente já disse que tem a intenção de visitar ao menos dois estados por semana.

Os focos são o Nordeste e o Sudeste. Dos sete estados visitados desde que se recuperou da Covid-19, só um era no Sul (Rio Grande do Sul) e outro no Norte (Pará). O Nordeste teve três estados visitados (Piauí, Bahia e Sergipe), enquanto o Sudeste, dois (São Paulo e Rio de Janeiro).

A participação de Bolsonaro em inaugurações pelo país era cobrança recorrente de seus novos aliados do centrão –grupo de congressistas liderado por PP, PL e Republicanos–, que reclamavam que governadores adversários capitalizavam politicamente em cima de obras feitas com recursos federais.

O presidente, então, passou a rodar o país para cortar a fita e assumir a paternidade de empreendimentos, mesmo que tenham sido iniciados em governos passados.
Foi o caso de um espaço de lazer e turismo inaugurado em 13 de agosto no centro de Belém. O complexo turístico do Porto Futuro é um projeto idealizado pelo governador Helder Barbalho (MDB) em 2016, quando ele era ministro da Integração Nacional de Michel Temer (MDB). As obras começaram em 2018.

A lista de inaugurações de Bolsonaro inclui entrega de sistema de abastecimento, de conjunto residencial, de escola cívico-militar e de usina termoelétrica.
Em chegadas transmitidas ao vivo em seu perfil no Facebook, Bolsonaro é aguardado por diversas pessoas que se espremem para chegar perto do presidente. Nesta segunda, em Sergipe, repetiu o gesto que fez no Piauí e levou um chapéu de vaqueiro à cabeça.
Os Ministérios da Infraestrutura e do Desenvolvimento Regional têm uma lista de obras apresentada ao chefe do Executivo para que ele escolha os locais que quer visitar até o fim do ano.

Os titulares destas pastas –ministros Tarcísio de Freitas e Rogério Marinho, respectivamente– integram o que passou a se chamar de ala desenvolvimentista do governo.

Eles tentavam negociar com o TCU (Tribunal de Contas da União) uma brecha na lei do teto de gastos para conseguir ampliar suas despesas e tocar obras, atendendo ao anseio eleitoral de Bolsonaro.

O teto de gastos limita o aumento das despesas do governo à inflação do ano anterior.
Na semana passada, durou menos de 24 horas a defesa de Bolsonaro à manutenção do teto. Na quarta-feira (12), ele disse respeitá-lo. No dia seguinte, reconheceu que havia discussões para burlar a regra.

O jornal Folha de S.Paulo mostrou no domingo (16) que, animado com o aumento de sua popularidade, Bolsonaro tem cobrado do ministro da Economia, Paulo Guedes, postura menos resistente ao aumento de gastos públicos, com foco não apenas nas obras, mas também nos benefícios sociais.

O Datafolha mostrou que Bolsonaro está no auge de sua popularidade, com 37% dos brasileiros considerando seu governo ótimo ou bom. A curva de rejeição caiu de 44% para 34%. Para 47% dos entrevistados, ele não tem culpa pelas 100 mil mortes causadas pela Covid-19 no país.

A onda positiva é alavancada pelo auxílio emergencial de R$ 600, que impediu 23,5 milhões de caírem na pobreza. Este benefício, pago desde abril, deve ser estendido até outubro.

Até o fim do ano, Bolsonaro lançará outras medidas de impacto social. Deve enviar ao Congresso um projeto de lei que cria o Renda Brasil, uma reformulação do Bolsa Família que serviria como substituto ao auxílio emergencial, sobretudo para os trabalhadores informais.

O valor do benefício ainda não foi definido, mas deve ser superior ao do programa criado no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), entre R$ 250 e R$ 300.

Além da nova iniciativa, o governo federal distribuirá até o fim do ano R$ 5 milhões em cestas básicas para mulheres em situação de vulnerabilidade e pretende lançar o programa social “Cuidar + Brasil”, discutido pelo Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos.

Opositores procuram minimizar os efeitos da ofensiva eleitoral do presidente.
“Nitidamente, ele está querendo compensar no Nordeste o que perdeu no Sudeste. Penso, contudo, que só conseguiria isso se fizesse mais do que simplesmente inaugurar obras dos governos Lula e Dilma [ambos do PT]”, disse o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B).

“Não há obras iniciadas por ele. Nenhum programa novo. Ele só está visitando obras alheias e mudando nome de programas já existentes.”

O senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou que é preciso que a oposição busque um discurso comum que aponte contradições de Bolsonaro, apesar da fragmentação que o campo político contrário ao governo está sofrendo por causa de disputas no âmbito das eleições municipais.

“Temos de trabalhar a unidade da oposição para enfrentar este momento, especialmente no Nordeste, onde ele está atacando”, disse.

O senador admitiu que o presidente está conseguindo surfar em questões como o sucesso do auxílio emergencial, falou em desespero das pessoas diante das crises sanitária e econômica e que o momento reflete mudança de postura de Bolsonaro, que causava instabilidade política constante com ataques ao Legislativo e ao Judiciário.
Costa, porém, insistiu que a situação não está resolvida para Bolsonaro e que a oposição tem de esboçar uma reação.

“As contradições são gigantescas e precisamos explorá-las: O auxílio continua? Até quando? Em que valor?”, afirmou o petista. “Há o pós-pandemia, as disputas internas do governo, entre o bloco dos militares com o centrão, querendo mais dinheiro, e boa parte do empresariado que ainda apoia Bolsonaro e é contra furar o teto de gastos.”

 

Folha

 

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