“Para quem não está comigo, tem o Lula em 2022”, declaração do presidente Jair Bolsonaro, nesta terça-feira, em Brasília. “Em 2002, nós não teremos dois extremos, teremos só um”, fala do senador Renan Calheiros (MDB), ao jornal El País, no domingo.
As duas frases revelam as estratégias que as principais forças políticas tentam armar para a disputa das eleições nacionais do próximo ano.
A frase de Renan foi uma manifestação sobre o encontro entre os presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso (FHC), na semana passada, em São Paulo. A opinião externada por ele é a de que o encontro sinaliza união mais ampla das oposições para a disputa eleitoral.
É provável que o almoço entre os dois ex-presidente tenha sido planejado com o propósito exatamente de sinalizar para a necessidade de uma ampla aliança das oposições. Essa é a estratégia de Lula, que, certamente, tem a simpatia de FHC, mesmo sabendo ele que é praticamente impossível juntar o PT e o PSDB no primeiro tempo das eleições.
Com grande experiência em disputas presidenciais (já disputou 5 ), Lula quer evitar a polarização esquerda contra a direita. O PT tem desgastes acumulados e corre o risco de se isolar, como ocorreu em 2018, se se esgueirar no beco da esquerda.
A ideia de Lula parece ser a de atrair partidos de direita e de centro, inclusive alguns que estão na base de apoio a Bolsonaro, e construir um discurso de centro ou centro-esquerda.
Sabe, perfeitamente, porém, que alguns partidos de centro e de direita vão acabar apresentando candidaturas à presidência, como são os casos do PSDB e Cidadania, e sabe que o PDT vai lançar a candidatura de Ciro Gomes. Assim, trabalha, desde já, para garantir o apoio desses partidos no segundo turno.
O propósito é isolar Bolsonaro numa aliança de partidos mais conservadores e mais radicais. Eis o sentido da frase de Renan, que, pelo visto, acompanha as articulações.
O discurso mais recente de Bolsonaro tem sido o de relembrar os casos de corrupção nos governos petistas e posições do partido que foram objeto de rejeição em 2018. Agora, Bolsonaro aponta diretamente a opção Lula para quem não quiser estar com ele. Ou seja, é ele ou Lula. Tenta aí, já agora, segurar os partidos do centrão, que estão com ele. Assim, formaria uma aliança mais ampla com vários partidos de direita e isolaria Lula na esquerda.
Quem obtiver êxito na estratégia de isolamento do outro, terá mais chances em 2022.
Josival Pereira