A taxa de subutilização da força de trabalho, que inclui os desempregados, pessoas que gostariam de trabalhar mais e aqueles que desistiram de buscar emprego, bateu recorde no primeiro trimestre, chegando a 24,7%, informou nesta quinta (17) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Ao todo, são 27,7 milhões de pessoas nessas condições, o maior contingente desde o início da série histórica, em 2012. Destes, 13,7 milhões procuraram emprego mas não encontraram.
O restante são subocupados por insuficiência de horas trabalhadas, pessoas que gostariam de trabalhar mas não procuraram emprego ou desistiram de procurar emprego. Os dados são parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.
A taxa de desalento da força de trabalho, que indica as pessoas que desistiram de procurar trabalho, também foi recorde no trimestre, atingindo 4,1%. De acordo com o IBGE, eram 4,6 milhões de pessoas nessa condição, 60,6% deles na região Nordeste.
De acordo com o coordenador de Trabalho e Renda do IBGE, Cimar Azeredo, o aumento nesse grupo pode explicar parte da melhora do emprego no primeiro trimestre, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Em março, o desemprego era de 13,1%, ante 13,7% em 2017.
Mas houve crescimento de 1,3 ponto percentual ante o trimestre anterior, frustrando expectativas de recuperação sustentável do mercado de trabalho após três quedas consecutivas em 2017.
Entre os primeiros trimestres de 2017 e de 2018, o número de desempregados caiu em 489 mil pessoas. Já o número de desalentados cresceu em 511 mil pessoas. “A desocupação caiu sim, mas caiu em função de aumento do desalento e aumento da população subocupada”, comentou Azeredo.
Entre os que desistiram de procurar emprego, pretos e pardos são a maioria, representando 73,1% desse contingente. Do total, 23,4% têm entre 18 e 24 anos, e 38,4%, ensino fundamental incompleto.
Comparando com o primeiro trimestre de 2014, antes do início da crise no mercado de trabalho, a população subutilizada cresceu 73%, ou 11,7 milhões de pessoas. O número de desalentados cresceu 194.9%, ou 3 milhões de pessoas.
No período, o número de desempregados cresceu 94,2%, o que significa que há 6,6 milhões de pessoas a mais procurando emprego no país. Do total de desempregados, 3 milhões de pessoas estão em busca de recolocação há mais de dois anos.
Para Thiago Xavier, analista da Tendências, apesar da melhora dos indicadores de desemprego no ano passado, o mercado ainda resistirá a apresentar melhora consistente.
“As pessoas voltam a procurar emprego quando percebem que a economia está melhor. E, para o desemprego melhorar de forma sustentável, precisamos criar vagas para quem está na fila e também para que deixou a fila ou vai ingressar nela em breve, o que não parece ser o cenário que temos à frente”, disse.
REGIÕES
Os dados divulgados nesta quinta pelo IBGE mostram que o desemprego é mais forte na região Nordeste, onde a taxa chega a 15,9%, e mais fraco no Sul, que tem apenas 8,4% de sua força de trabalho sem emprego.
Na comparação com o quarto trimestre, houve aumento do desemprego em todas as regiões, com maior intensidade no Nordeste, que teve alta de 2,1 pontos percentuais. No Sul, o aumento foi de apenas 0,7 ponto percentual.
Entre os estados, as maiores taxas são do Amapá (21,5%), Bahia (17,9%), Pernambuco (17,7%) e Alagoas (17,7%). As menores, de Santa Catarina (6,5%), Mato Grosso do Sul (8,4%), Rio Grande do Sul (8,4%) e Mato Grosso (9,3%).
Em São Paulo, a taxa de desemprego no trimestre foi de 14%, queda de 0,2 ponto percentual com relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Foi o único estado com perda significativa de vagas com carteira assinada nessa comparação, de 2,5%, ou cerca de 300 mil pessoas.
“Isso é grave, porque o que acontece em São Paulo vai acontecer depois no resto do país”, diz Azeredo. No primeiro trimestre, o Brasil atingiu o menor número de trabalhadores com carteira assinada desde 2012.
Folha