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Bolsonaro erra e faz, na ONU, discurso radical contra o próprio país e repleto de dados distorcidos

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O presidente Jair Bolsonaro, em um discurso radical e repleto de inverdades na abertura da Assembleia Geral da ONU em Nova York nesta terça-feira, defendeu o tratamento precoce contra a Covid-19 — cuja ineficácia é comprovada —, criticou o passaporte sanitário e disse que o Brasil estava à beira do socialismo antes de assumir o governo. Ao contrário do tom moderado adotado na carta em que sinalizou um recuo após os atos antidemocráticos do 7 de setembro, Bolsonaro fez um discurso voltado para os seus apoiadores no qual enalteceu as manifestações. Além disso, citou dados errados de desmatamento, que cresce em seu governo, e fez alegações infundadas sobre o enfrentamento da pandemia.

Ele iniciou o discurso de 12 minutos prometendo mostrar um país diferente “daquilo publicado em jornais ou visto em televisões”. Em um tom forte, disse que está, desde o início de seu governo “sem casos de corrupção” — ignorando investigações, inclusive de CPIs — e com um presidente que acredita em Deus. Criticou países ricos por questões ambientais e defendeu o agronegócio brasileiro. Na parte da pandemia, voltou a defender o “tratamento precoce” contra a Covid-19, o uso de medicamentos com ineficácia comprovada contra o novo coronavírus.

— O Brasil tem um presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição e seus militares, valoriza a família e deve lealdade a seu povo. Isso é muito, é uma sólida base, se levarmos em conta que estávamos à beira do socialismo. Nossas estatais davam prejuízos de bilhões de dólares, hoje são lucrativas. Nosso Banco de Desenvolvimento era usado para financiar obras em países comunistas, sem garantias. Quem honra esses compromissos é o próprio povo brasileiro. Tudo isso mudou. Apresento agora um novo Brasil com sua credibilidade já recuperada — declarou.

Tratamento precoce

Apesar de tentar mostrar otimismo com dados econômicos na primeira parte de sua fala, Bolsonaro voltou a usar críticas ao combate à pandemia. Contrariando orientações científicas, Bolsonaro defendeu mais uma vez, como fez diversas vezes na pandemia, o tratamento precoce.

— Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce, seguindo recomendação do nosso Conselho Federal de Medicina. Eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial. Respeitamos a relação médico-paciente na decisão da medicação a ser utilizada e no seu uso off-label. Não entendemos porque muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial. A história e a ciência saberão responsabilizar a todos.Ele voltou a dizer que brasileiros foram “obrigados” a ficar em casa por decisão de governadores, e por isso, perderam a sua renda. Mas tentou trazer para si o mérito de ter implantado o auxílio emergencial, aprovado pelo Congresso, para amenizar a crise.

Bolsonaro também se colocou contra o passaporte de vacinação, usado para a entrada em determinados locais mediante comprovação da imunização. O passaporte é adotado inclusive em Nova York, onde ocorre o evento. O presidente ainda não tomou a vacina contra a Covid-19.

— Apoiamos a vacinação, contudo o nosso governo tem se posicionado contrário ao passaporte sanitário ou a qualquer obrigação relacionada a vacina. Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce, seguindo recomendação do nosso Conselho Federal de Medicina.

Bolsonaro falou brevemente sobre a questão racial:

— Ratificamos a comissão interamericana contra o racismo e formas correlatas de intolerância.

Em seguida, falou que “temos a família tradicional como fundamento da civilização”, defendendo a “liberdade de culto”.

Meio Ambiente

Bolsonaro afirmou, ainda, que nenhum país no mundo possui uma legislação ambiental tão completa quanto a do Brasil e que o Código Florestal em vigor deve servir de exemplo para outras nações.

— Somente no bioma amazônico, 84% da floresta está intacta, abrigando a maior biodiversidade do planeta — disse.

Ele ressaltou que houve redução de 32% no desmatamento na Amazônia em relação ao ano passado. E convidou os presentes a visitarem a região.

Os números do discurso de Bolsonaro são questionados. Se o desmatamento na Amazônia caiu 32% em agosto, no entanto, os números vistos entre março e junho foram os maiores já registrados. Além disso, segundo a série histórica do sistema Deter do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os dois primeiros anos do presidente no Planalto registraram os dois piores ciclos de desmatamento na Amazônia.

O presidente cobrou que os países industrializados cumpram o compromisso com o financiamento do clima em volumes relevantes. Ele disse que o futuro do emprego verde está no Brasil.

Bolsonaro afirmou que uma área equivalente a Alemanha e França juntas é destinadas às reservas indígenas, onde, segundo ele, mais de 600 mil indígenas vivem em liberdade e “cada vez mais desejam usar suas terras para a agricultura e outras atividades”.

Infraestrutura

Na fala, o presidente destacou contratos fechados no setor de infraestrutura, com leilão de aeroportos e terminais portuários, além de acordos fechados para novas ferrovias.

— Temos tudo o que o investidor procura. Um grande mercado consumidor, excelentes serviços, tradição de respeito a contratos e confiança no nosso governo — afirmou.

O presidente destacou os resultados da Operação Acolhida, destinada a receber cidadãos venezuelanos em situação de vulnerabilidade, e que o Brasil está aberto para receber refugiados.

Ao concluir, ele encerrou falando das manifestações do último 7 de setembro, marcada por posicionamentos antidemocráticos:

— No último 7 de setembro, data de nossa Independência, milhões de brasileiros, de forma pacífica e patriótica, foram às ruas, na maior manifestação de nossa história, mostrar que não abrem mão da democracia, das liberdades individuais e de apoio ao nosso governo — afirmou.

O presidente Jair Bolsonaro abre nesta terça, pouco depois das 10h, a 76ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, mantendo a tradição dos presidentes brasileiros desde 1955. Depois de ganhar notoriedade por ser um dos únicos líderes mundiais que ainda não tomou vacina, o presidente brasileiro, pressionado, prometeu tratar em seu discurso de temas como a pandemia e o meio ambiente.

Esta é a terceira vez que Bolsonaro participa do evento. No ano passado, com a Assembleia Geral 100% virtual por causa da pandemia, o presidente tentou se defender das críticas sobre a gestão da Covid-19 dizendo que a imprensa brasileira “politizava o vírus, disseminando o pânico entre a população”. Segundo o presidente, ao defender que as pessoas ficassem em casa durante período de isolamento social, como recomendavam os especialistas de saúde, os veículos de imprensa “quase trouxeram o caos social ao país”, repetindo seu discurso em eventos internos.

Em 2019, Bolsonaro fez o seu discurso inaugural na Assembleia Geral com ataques indiretos a outros líderes internacionais, críticas a Cuba, à Venezuela, à mídia e a própria ONU, além de várias referências a um mal definido “socialismo”, segundo ele uma “ideologia” que busca um “poder absoluto”. O presidente reforçou temas de campanha e criticou “antecessores socialistas”.

No Brasil, para atender aqueles mais humildes, obrigados a ficar em casa por decisão de governadores e prefeitos e que perderam sua renda, concedemos um auxílio emergencial de US$ 800 para 68 milhões de pessoas em 2020.

Lembro que terminamos 2020, ano da pandemia, com mais empregos formais do que em dezembro de 2019, graças às ações do nosso governo com programas de manutenção de emprego e renda que nos custaram cerca de US$ 40 bilhões.

Somente nos primeiros 7 meses desse ano, criamos aproximadamente 1 milhão e 800 mil novos empregos. Lembro ainda que o nosso crescimento para 2021 está estimado em 5%.

Até o momento, o Governo Federal distribuiu mais de 260 milhões de doses de vacinas e mais de 140 milhões de brasileiros já receberam, pelo menos, a primeira dose, o que representa quase 90% da população adulta. 80% da população indígena também já foi totalmente vacinada. Até novembro, todos que escolheram ser vacinados no Brasil, serão atendidos.

A resposta do governo federal à pandemia de Covid-19 virou motivo de críticas dentro e fora do país: com mais de 21,2 milhões de casos registrados, o Brasil é a terceira nação do planeta com o maior número de infecções, atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia. No número absoluto de mortes, é o vice-líder, atrás apenas dos EUA. Desde o início da crise sanitária, já morreram mais de 590 mil brasileiros.

 

O Globo

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