Nas últimas semanas, Bolsonaro deu a seguinte orientação ao auxiliar: tenha um paraquedas reserva. Fez isso em duas ocasiões, uma delas por mensagem de texto e a outra, pessoalmente, durante uma cerimônia no Planalto. Na primeira vez, a sugestão veio acompanhado de um anúncio: “Vou para o PL. Tenha um paraquedas reserva”.
Depois dos recados explícitos, interlocutores de Bolsonaro fizeram chegar a Mourão que o presidente está disposto a apoiá-lo ao cargo que ele escolher concorrer em 2022, desde que não haja conflitos com interesses do núcleo mais próximo do mandatário da República.
Marcado para amanhã, o ingresso do presidente no partido símbolo do Centrão, presidido por Valdemar Costa Neto, vai impactar na escolha de quem será o vice na chapa presidencial em 2022. O nome deverá ser indicado por outra legenda da base de apoio bolsonarista, possivelmente o PP, também do Centrão. O partido, comandado pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, se manteve até recentemente como uma das opções de Bolsonaro para se filiar. Em outros momentos, Bolsonaro já disse a aliados, contudo, que cogitava entregar a vice a um evangélico ou a uma mulher, preferencialmente de um estado do Nordeste.
Antes mesmo de receber o sinal explícito do presidente, de olho no futuro, Mourão, que é filiado ao PRTB, já vinha conversando com partidos. Recebeu convites para entrar no PP, PL, PSD, Republicanos e no próprio Podemos, sigla de Moro — este feito pela presidente do partido, deputada Renata Abreu (SP).
A ponte Moro-Mourão foi pavimentada, porém, por amigos em comum. Ex-integrante do atual governo, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, titular da Secretaria de Governo entre janeiro e junho de 2019 e provável candidato a uma cadeira no Congresso pelo Distrito Federal, é um dos entusiastas da aproximação. O militar defende até que Mourão continue na cadeira de vice, mas em uma gestão Moro.
O ex-ministro da Justiça tem tentado atrair integrantes das Forças Armadas para seu projeto eleitoral. Os militares são a principal base de Bolsonaro desde o início de sua carreira política.
Há cerca de um mês, um amigo em comum avisou ao vice-presidente que Moro iria procurá-lo, o que de fato ocorreu. De lá para cá, o vice-presidente e o ex-ministro da Justiça vêm trocando mensagens. Moro perguntou-lhe o que havia achado de seu discurso na cerimônia de filiação ao Podemos. Mourão elogiou. A retribuição veio quando Mourão criticou publicamente o orçamento secreto, ocasião em que Moro também enviou um curto texto felicitando o posicionamento do vice-presidente. Também já trocaram considerações a respeito da PEC dos Precatórios, alvo de críticas de ambos.
Mourão não fala sobre o assunto publicamente. Quando perguntado por interlocutores próximos se pretende reencontrar Moro pessoalmente, se diz escaldado. Alega que não pretende reviver o episódio da reunião secreta com o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), outro desafeto de Bolsonaro. O encontro vazou e irritou o presidente, que se sentiu traído. Esse foi um dos muitos capítulos de desentendimento da desgastada parceria entre Bolsonaro e Mourão. Há tempos, a relação é pautada por desconfiança mútua.
Caminho indefinido
Hamilton Mourão ainda não bateu martelo sobre o caminho a trilhar no ano que vem. Balança entre uma candidatura ao Senado pelo Rio de Janeiro ou Rio Grande do Sul, mas não descarta disputar o governo fluminense, o que não agrada a sua família. Apesar dos flertes com representantes de variados espectros ideológicos, ele ainda almeja o apoio de Bolsonaro quando botar a cabeça para fora.
Na última quinta-feira, Mourão se reuniu com o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), segundo o colunista Lauro Jardim, do GLOBO. Castro pretende disputar a reeleição. Na conversa, o vice avisou a Castro que só definirá o seu destino político em março. Mas garantiu ao governador que os dois serão aliados.