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Abin Paralela: Metade das espionagens foi feita nas eleições de 2020

  • Brasil
  • 30 de janeiro de 2024
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Informações colhidas pela Polícia Federal (PF) na operação que investiga os indícios de criação de um aparato paralelo na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para atender a interesses políticos da família Bolsonaro revelam que as eleições municipais de 2020 foram o ápice das ações clandestinas de rastreamento de celulares. Dentre as mais de 60 mil consultas realizadas pela agência ao sistema First Mile, 30 mil aconteceram no período eleitoral.

O sistema First Mile foi um programa adquirido pela Abin, durante a gestão do hoje deputado Delegado Ramagem (PL-RJ), que permite rastrear a localização de aparelhos celulares. A PF acredita que uma de suas atividades tenha sido a de monitorar opositores ao governo de Jair Bolsonaro, motivo pelo qual o parlamentar foi alvo de uma operação de busca e apreensão na última quinta-feira (25).

Nesta segunda-feira (29), um novo mandado de busca e apreensão foi executado na residência do vereador fluminense Carlos Bolsonaro. Em sua decisão, o relator Alexandre de Moraes citou um trecho de relatório da PF com base em informações apresentadas pela Corregedoria-Geral da União (CGU), que aponta para a intensificação das atividades da suposta Abin paralela no período eleitoral de 2020.

“A premissa investigativa ganha concretude com a identificação de informações sigilosas impressas pelo Del. Alexandre Ramagem possivelmente para entregar aos destinatários do núcleo político. A CGU, nesta trilha, identificou impressão de documento pelo então Diretor da Abin contendo a lista contendo informações dos Inquéritos Eleitorais da Polícia Federal no Estado do Rio de Janeiro. A lista (…) apresentava o número de inquérito, nome do investigado, o cargo político e o partido político”, registrou a PF.

A discrepância entre a quantidade de consultas ao sistema First Mile ao longo do período eleitoral em relação ao resto do tempo em que foi empregada. Além disso, a polícia judiciária rastreou uma troca de mensagens de texto entre Luciana Almeida, assessora de Carlos Bolsonaro, e Priscila Pereira e Silva, que foi assessora de Ramagem, solicitando informações sobre um inquérito policial que supostamente envolvia Jair Bolsonaro e três de seus filhos.

Para Alexandre de Moraes, relator do inquérito, as provas colhidas pela PF indicam que o núcleo político da Abin paralela “se valeu de métodos ilegais para a realização de ações clandestinas direcionadas contra pessoas ideologicamente qualificadas como opositoras, (…) bem como para fiscalizar indevidamente o andamento de investigações em face de aliados políticos”.

Para além de monitorar inimigos políticos, a decisão de Moraes destaca a criação de núcleos da Abin paralela para tentar vincular a imagem de rivais ao grupo armado Primeiro Comando Capital (PCC), bem como perseguir agentes públicos, citando como exemplo o servidor do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) Hugo Ferreira Netto Loss, exonerado do órgão em 2020 após coordenar operações contra o garimpo no sul do Pará.

Moraes ressalta a possibilidade de a atuação da Abin contra rivais da família Bolsonaro ter sido ainda mais intensa sob a gestão de Ramagem. “Os significativos indícios colhidos pela Polícia Federal apontam a possibilidade de identificação de ainda mais núcleos de atuação da organização criminosa, com participação de outros agentes ainda não identificados”, comentou na decisão.

Congresso em Foco

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