Atendendo a uma propositura da vereadora Cris Furtado (PSB), a Câmara Municipal de João Pessoa realizou na tarde desta quinta-feira, 30, uma sessão especial para debater “Liberdade, Diversidade e Intolerância Religiosa”. Representantes de diversas religiões como as de culto africano, católica, evangélica, budismo e da doutrina espírita compareceram ao plenário. “Sou suplente e não poderia passar por essa Casa sem abordar esse tema porque é um resgate histórico e uma obrigação de todo cidadão e cidadã. O debate sobre esse tema vai ampliar nossas percepções nos ajudar a integrar esse mundo diverso em que vivemos”, disse a parlamentar, que chegou ao mandato no período de licença do titular, Odon Bezerra.
A primeira oradora a se pronunciar foi Tânia Correia, mãe de santo: “Nossa pauta muitas vezes é promessa de campanha, mas depois é esquecida. A liberdade e a diversidade religiosa são assuntos que ainda precisam ser discutidos tanto na sociedade quanto em espaços como esse. Precisamos eleger quem nos representa e não quem perpetua preconceitos e estimula discursos de ódio. Todos os dias nos deparamos com discurso de ódio nos meios de comunicação contra aquelas religiões que não são as dominantes. Continuam nos segregando e se estamos aqui na Câmara hoje é porque precisamos de representantes de coibam o racismo e o preconceito. Atualmente, o Brasil vive uma epidemia de fanatismo religioso e precisamos tornar a liberdade religiosa um direito humano”
A vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil seccional Paraíba, Rafaella Brandão, também compareceu à sessão e elogiou a iniciativa de debater o respeito às religiões. Apesar de ser católica, Rafaella destacou a importância dos cultos de origem africana: “O povo africano foi quem construiu esse país com muito sofrimento. Eu me dirijo diretamente a ele porque ainda hoje ele é majoritariamente marginalizado. Não devemos participar de rodas em que haja racismo de qualquer espécie, seja ele denominado até de ‘recreativo’. Precisamos respeitar mais porque sem isso as próximas gerações estarão perdidas. Precisamos transmitir uma mensagem de paz e respeito. A OAB empreenderá todos os esforços para que tenhamos uma sociedade paritária, isonômica e respeitosa”.
Franklin Soares, da comissão de Liberdade Religiosa da OAB Nacional, pontuou que apesar de o estado ser laico, ele manifesta preferência por alguns segmentos religiosos. O advogado também alertou que o ódio é abastecido pela condescendência. “Isso se dá quando deixamos uma piada ou um comentário depreciativo com determinado credo passar sem recriminá-lo. Da mesma maneira que não podemos conceber salários diferentes para homens e mulheres que ocupam o mesmo cargo, também não podemos aceitar que a polícia aborde de maneira distinta quem é preto e quem é branco, mas sabemos que essa diferença existe. E que isso se dá também em relação à religião”.
Secretário de Meio Ambiente do Estado da Paraíba, representando o Governo, o sargento Dênis Soares enalteceu a discussão realizada a pedido da vereadora Cris Furtado: “Eu vim para aprender com os heróis e heroínas que são vocês. Essa Casa cumpre seu papel e tenho muito orgulho dos representantes de todas as religiões e filosofias de vida. Evoluímos muito porque esse tipo de sessão nunca aconteceu aqui”.
Também esteve na tribuna o bruxo Saulo Gimenez, presidente do Fórum da Diversidade Religiosa da Paraíba que entregou uma carta do segmento “A capital é uma das três cidades onde mais se cometem crimes de intolerância religiosa. João Pessoa só perde para Cabedelo e Campina Grande. Nossa proposta é criar uma coordenadoria na prefeitura para promover a liberdade religiosa.” O documento foi entregue a Cris Furtado para chegar ao conhecimento do presidente da CMJP, Dinho Dowsley.
Na sequência, o advogado Tarcísio Feitosa, da Comissão de Direito à Liberdade Religiosa da OAB-PB, explicou que a entidade auxilia sempre que haja desrespeito aos praticantes de quaisquer credos: “Temos uma delegacia que combate a intolerância religiosa e vocês precisam falar sempre que forem desrespeitados. Acredito que nenhum de vocês quer ser tolerado, mas sim respeitado. Isso é o que vai nos unir para combater agressões e discurso de ódio”.
Ao encerrar a sessão, Cris Furtado lamentou que no século XXI ainda seja necessário discutir o direito de crença, mas ressaltou que pessoas valorosas como as que participaram do debate estão dispostas a lutar não apenas pela tolerância, mas pelo respeito: “Todos temos o direito de existir de forma plena. Sou uma defensora da educação e entendo que esse trabalho aqui hoje também é de educar a população para entender e respeitar as diferenças”.