Uma particularidade chama a atenção no horizonte político da Paraíba, envolvendo como protagonista o atual governador Ricardo Coutinho: a sua dificuldade de relacionamento com vices, seja na prefeitura de João Pessoa, que exerceu por duas vezes, seja no governo do Estado, que está exercendo pela segunda vez consecutiva.
Quando prefeito da Capital em duas ocasiões – 2004 e 2008 – o líder maior do PSB acumulou conflitos com Manoel Júnior, que acabou abreviando a permanência e candidatando-se a deputado federal em 2006, e com Luciano Agra, cuja candidatura a prefeito em 2012 foi barrada graças a articulações de Ricardo, o comandante maior do PSB no Estado.
Agora, no governo do Estado, Ricardo coleciona atrito com a vice-governadora Lígia Feliciano, do PDT, que ele foi buscar em Campina Grande na undécima hora do prazo de registro de chapa na eleição de 2014, com o oferecimento de que ela fosse sua companheira de chapa.
Na preparação para o pleito deste ano, Lígia e o marido, Damião Feliciano, deputado federal, insinuaram ambições no sentido de que a vice assumisse efetivamente o governo com a saída de Ricardo para disputar o Senado. Isto poderia abrir espaço para Lígia tornar-se “candidata à reeleição” como governadora. Ricardo, em nenhum momento, fez acenos a Lígia no sentido de apoiá-la.
Numa manobra rápida, lançou a pré-candidatura do ex-secretário João Azevedo ao governo estadual e comunicou que resolveu permanecer no cargo até o último dia do governo. Deixou claro, ainda que de forma subliminar, que não confiava em Lígia, tanto assim que repetiu por várias vezes o argumento de que era preciso dar continuidade ao projeto administrativo que desenvolve e que, segundo ele, não deveria cair em mãos erradas.
No primeiro mandato, conquistado em 2010, Ricardo teve como companheiro de chapa no governo do Estado Rômulo Gouveia, atual presidente do PSD no Estado, conhecido pelo jogo de cintura que o faz transitar bem nas diferentes correntes políticas paraibanas. Rômulo exerceu papel meramente decorativo na administração estadual, sendo mantido afastado das grandes decisões e desinformado sobre os projetos ambiciosos que Coutinho idealizou para o Estado.
A indicação de Rômulo processou-se mediante composição política, como estratégia para agradar ao senador Cássio Cunha Lima, do PSDB, que oficializara apoio à candidatura de Ricardo a governador. Rômulo cumpriu missões de representação do governador em solenidades oficiais, mas nunca se considerou prestigiado à altura do seu desejo de colaborar com o governo vigente.
Atribui-se tal ciclo de rompimentos ao estilo personalista que é a característica maior do governador Ricardo Coutinho, um político que costuma fazer apologia das obras que realizou e compará-las com outros governos, a pretexto de demonstrar que foi mais eficiente, mais criativo e mais responsável.
Uma iniciativa de Ricardo que acabou entrando no folclore político estadual foi o anúncio da eclosão de um denominado “Coletivo Ricardo Coutinho”, um agrupamento restrito, composto por pessoas de absoluta confiança dele. Quando se pensava que o Coletivo ganharia desdobramentos de impacto, Ricardo surpreendeu e numa entrevista ao “Jornal da Paraíba” disse que estava extinguindo o tal agrupamento.
Na visão de aliados do próprio governador, suas atitudes refletem um certo capricho pessoal, decorrente do fato de que Coutinho se considera o líder máximo, sem o qual não sobreviveriam outras lideranças que gravitam na sua órbita.
Fonte: Giro PB, por Nonato Guedes