Nas últimas eleições, 500 quilombolas disputaram cargos no Legislativo e Executivo e 79 acabaram eleitos, sendo dois prefeitos, nove vice-prefeitos e 68 vereadores. Os dados são da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq). Para este ano, a entidade espera que continue crescendo o número de quilombolas dispostos a disputar cargos eletivos.
Na Paraíba, que não teve nenhum representante eleito, Bianca Quilombola decidiu disputar uma das 36 cadeiras da Assembleia Legislativa da Paraíba nas eleições deste ano. Desde os 12 anos militando na comunidade Cruz da Menina, no município de Dona Inês, em busca de ações sociais que beneficiem a população, a suplente de vereadora faz parte da Rede Sustentabilidade. Ela afirma que terá como bandeiras de luta o direito das comunidades remanescentes de Quilombo, a defesa da população negra e a presença da mulher preta na política.
“Há coisas que não podemos fazer se não estivermos na política. Quero dar minha contribuição na busca por uma sociedade mais justa e igualitária, e a política é o melhor espaço para isso. Considerando também que falta um legítimo representante da população negra na Assembleia Legislativa do Estado, que possa não só dizer que representa, mas que vivencie a realidade dos negros e mais ainda dos quilombolas. Quero representar essas populações, principalmente na luta pelo território. Estando na Assembleia terei uma voz mais forte em defesa dessas lutas. Não será uma candidatura de faz de conta, para preencher vagas, será uma candidatura firme, com propósito, com objetivos”, destacou a pré-candidata.
Sobre o preconceito da mulher na política, Bianca disse que é algo difícil, mas evidente. “Sofremos isso diariamente. O fato de ser mulher já atrai olhares diferentes. O espaço que temos hoje na política, não é espontâneo, é uma obrigação exigida por Lei. Alguns políticos não se sentem bem com nossa presença. Para alguns é um carma a ideia dos 30% de candidaturas femininas em uma nominata. O desafio é ainda maior quando você é mulher, negra e quilombola, como é o meu caso. Por isso é necessária uma voz na Assembleia. Não tenho sobrenome político, não venho de uma família tradicional na política. Isso aumenta o preconceito”, disse.
Natural da Comunidade Quilombola Cruz da Menina, no município de Dona Inês, aos 16 anos, Bianca Quilombola, ingressou na militância política, e foi aí que viu a oportunidade de poder contribuir mais com a comunidade em que vive. Em 2016, disponibilizou seu nome para ser candidata a vereadora, vindo a ficar na suplência, voltando a se candidatar em 2020, mais uma vez ficando na suplência.