Quem duvida que a base parlamentar do Centrão se aproximará desse montante, para não dar chance a Lula de se aproveitar do novo Bolsa Família para fazer mais promessas vãs? Não há dinheiro disponível para tamanha bondade que, embora necessária, deveria ter sido planejada desde o início do governo. Não é surpresa para ninguém que o governo Bolsonaro queira sequestrar para si os benefícios de programa social tão bem-sucedido, assim como Lula fez com os programas sociais do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
A junção dos cadastros dos programas sociais coordenados por Ruth Cardoso era o passo natural a ser dado, e a justificativa para tal está no próprio projeto que criou o Bolsa Família, que se refere explicitamente aos programas já em curso que foram reunidos. A questão não é a necessidade de programas desse tipo, nem mesmo sua ampliação para milhões de famílias. O que assusta é como esse projeto está sendo conduzido, sem nenhum planejamento econômico que permita sua fixação em bases sólidas.
Com a economia em frangalhos, fruto da irresponsabilidade fiscal do último governo petista e da incompetência deste governo, aumentamos o número de desempregados e desassistidos, e a solução é uma pedalada no teto de gastos com data marcada nas urnas. Reeleito, Bolsonaro pode tentar organizar a bagunça que promoverá. Derrotado, deixa para o sucessor uma crise financeira ainda maior. Se esse sucessor for o ex-presidente Lula, temos contratado um estelionato eleitoral, pois não será capaz de manter nem mesmo os R$ 400 que Bolsonaro deixará como herança maldita, quanto mais os R$ 600 que ele irresponsavelmente promete.
E quais são as chances de Bolsonaro se reeleger? Segundo a consultoria Eurasia, num trabalho que reuniu 224 eleições em que incumbentes concorreram à reeleição, é raro que eles não cheguem ao segundo turno. Apenas em 7% dos casos isso aconteceu. No caso de Bolsonaro, no entanto, a chance de não passar do primeiro turno é mais alta, de cerca de 20%, devido a sua baixa taxa de aprovação “ótimo ou bom”. Ele tem no momento entre 25% e 30% de aprovação e, de acordo com uma tabela que a Eurasia montou com base em 300 eleições compiladas pela Ipsos Public Affairs, Bolsonaro teria que chegar a 40% nos seis meses antes da eleição para ir ao segundo turno e ter condições de vencê-la.
A Eurasia analisa que certamente Bolsonaro tem chances de se recuperar, seus eleitores são muito leais — cerca de 48% afirmaram numa pesquisa de opinião do PoderData que não consideram alternativa que não seja ele, enquanto apenas 18% dos eleitores de Lula dizem o mesmo. Os analistas da Eurasia indicam que é mais importante saber como irá a economia do que quem será o candidato da terceira via.
A Eurasia acredita que dificilmente Bolsonaro cairá do nível de aprovação que tem hoje, apesar de riscos econômicos como inflação persistente, crise energética e crescimento baixo. Para manter o nível de aprovação e crescer a ponto de garantir a ida para o segundo turno com chances de vitória, no entanto, Bolsonaro tem no Auxílio Brasil a chave, embora, paradoxalmente, o sucesso do novo benefício, furando o teto de gastos, possa ser também a debacle econômica final de seu governo, com a perda de confiança dos investidores, aumento da inflação corroendo os programas sociais e impossibilitando o combate ao desemprego.