Começou no WhatsApp o racha que levou o senador Renan Calheiros a adiar a divulgação do relatório da CPI da Covid para a semana que vem. Assim que notaram que alguns veículos de imprensa traziam trechos do relatório final ainda em elaboração pela equipe de Calheiros, integrantes do grupo que reúne o chamado “G7 ampliado” – os senadores que comandam a CPI, mais suplentes e agregados – o acusaram de descumprir o compromisso de que ninguém teria acesso ao documento antes deles.
Senadores desse grupo me contaram que, por esse acerto, Renan discutiria os pontos do relatório com os outros membros na sexta-feira (15), acataria sugestões e, nesta semana, submeteria o relatório à comissão.
O presidente da CPI, Omar Aziz, foi o mais indignado ao constatar o vazamento. Acusando Renan de não cumprir o que promete, Aziz disse que não votaria o relatório sem discussão prévia. O documento tem mais de mil páginas e será discutido numa reunião do G7 nesta segunda-feira (18) à noite.
Para parte dos senadores, Calheiros quer capitalizar politicamente o último momento de exposição na CPI da Covid incluindo crimes que não se sustentam. Temem, inclusive, que alguns trechos sirvam de desculpa para que o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, arquive o relatório, alegando falta de substância. Eles querem que Calheiros modifique pelo menos três pontos do documento.
O primeiro é a tipificação dos crimes de Jair Bolsonaro. Integrantes do G7 acham que não é possível sustentar a responsabilidade do presidente da República por onze crimes, especialmente o de homicídio qualificado. Acreditam que configurar de forma sólida o argumento em torno de quatro ou cinco crimes já seria suficiente para responsabilizar Bolsonaro pelas 600 mil mortes por Covid-19 e a má condução do combate à pandemia.
Num relatório alternativo apresentado na semana passada, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) atribuiu cinco crimes a Bolsonaro: crime de responsabilidade, crime de epidemia, infração de medida sanitária preventiva, incitação ao crime e crime contra a humanidade. Para outros senadores, Bolsonaro também é culpado de prevaricação, omissão e crime contra a saúde pública.
Além disso, a maior parte acha que não há elementos para indicar Flávio Bolsonaro por advocacia administrativa a favor do dono da Precisa Medicamentos. Para lembrar, no ano passado o filho do presidente levou o dono da Precisa, Francisco Maximiano, ao BNDES, para pedir empréstimos para outra empresa sua. Calheiros também deve propor o indiciamento de outros dois filhos de Bolsonaro, Carlos e Eduardo.
E por último, nem todos os senadores do G7 concordam com a acusação de genocídio contra indígenas. Tasso Jereissati (PSDB-CE), Eduardo Braga (MDB-AM), Otto Alencar (PSD-BA) e Alessandro Vieira (Cidadania-SE) acham que houve descaso, mas não uma matança generalizada como quer configurar Calheiros.
Diante da forte reação dos colegas de CPI, o relator recuou, até porque não teria unanimidade para aprovar os pontos mais polêmicos. Depois da reunião desta segunda, o relator fará mudanças no texto e deve começar a ler o relatório na própria CPI a partir desta quarta-feira (20). O relatório será votado apenas na semana que vem.
O Globo