O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, faz nesta terça (21) o discurso de abertura da 76ª Assembleia-Geral da ONU com o desafio de conciliar três frentes. Tentar melhorar a imagem do país (em especial nos quesitos pandemia e ambiente) e se aproximar do governo dos EUA —atendendo a apelos das alas mais moderadas do governo—, sem deixar de motivar sua base ideológica.
O presidente, que por mais de uma vez disse que ele próprio não se imunizou, deve anunciar em Nova York um projeto de doação de vacinas contra a Covid a países mais pobres da América Latina e do Caribe, como Paraguai e Haiti. Com isso, destacaria o Brasil como um país que avançou rapidamente na aplicação de doses e que, ao mesmo tempo, busca ajudar os vizinhos.
A informação de que o anúncio estaria no discurso foi ventilada por membros do governo. Até o final da tarde desta segunda (20), porém, a fala do presidente ainda estava sendo editada, para juntar propostas enviadas pelo Itamaraty, pela missão do Brasil na ONU e por integrantes do Palácio do Planalto. A expectativa era a de que a versão final fosse fechada em cima da hora.
Bolsonaro deve destacar também ações do governo na área ambiental, como a antecipação da meta da neutralidade de carbono de 2060 para 2050, que já havia sido anunciada em abril.
Enquanto a ala pragmática do governo pedia por moderação, nos últimos dias, o presidente prometeu que diria “verdades” em seu discurso e disse que usaria a tribuna da ONU para, por exemplo, defender o marco temporal para demarcação de terras indígenas —o tema, em análise pelo STF (Supremo Tribunal Federal), pode dificultar a criação de novas reservas, o que é criticado por lideranças indígenas e ambientalistas.
Este será o terceiro discurso do líder brasileiro na ONU, e de novo há dúvidas sobre o quão fora dos padrões diplomáticos será sua fala. Em 2019, ele usou a tribuna para atacar críticos de sua política ambiental, a imprensa e países como Cuba e Venezuela. Em tom agressivo, que lembrava o da campanha eleitoral do ano anterior, disse que, antes de sua posse, o Brasil estava à beira do socialismo.
No ano passado, em discurso por vídeo (a Assembleia-Geral foi quase toda virtual, por causa da Covid), voltou ao tema. Disse que o Brasil era vítima de mentiras sobre as queimadas na Amazônia e que boa parte delas seria motivada por “causas naturais inevitáveis”. Também defendeu suas ações na pandemia e acusou a imprensa de disseminar pânico sobre a doença.
Em seguida a seu discurso neste ano, Bolsonaro pode ter alguns segundos de contato com o presidente americano, Joe Biden —na campanha americana de 2020, ele abertamente defendeu a reeleição de Donald Trump, de quem é próximo. Os dois ainda não se falaram oficialmente desde a posse do democrata, em janeiro, mas o tempo de encontro no plenário não deve ser suficiente para mais do que um aperto de mão ou uma conversa breve.
Folha