O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) falou rapidamente neste sábado (10) sobre a reunião que teve com o deputado Luís Miranda (DEM-DF), onde este e seu irmão, um funcionário do Ministério da Saúde, teriam denunciado a ele irregularidades no contrato da vacina Covaxin.
Bolsonaro afirmou à Rádio Gaúcha, em Bento Gonçalves, município da Serra Gaúcha onde ele passou a noite. Questionado se havia citado o nome do líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), na conversa com Miranda, Bolsonaro disse que o repórter ouviria o que ele tinha para falar.
“Eu não respondo sobre reunião. Eu tenho reunião com 100 pessoas por mês, os assuntos mais variados possíveis. Eu não posso simplesmente…chegar qualquer coisa para mim e ter que tomar providência imediatamente, tá certo? Tomei providência nesse caso”, afirmou.
À CPI Luis Miranda declarou que alertou Bolsonaro, em março, sobre as suspeitas em torno do caso Covaxin. Segundo ele, o presidente associou o líder do governo na Câmara às supostas irregularidades —Barros nega ter participado da negociação para a compra da Covaxin.
Enquanto apoiadores gritavam “jornalismo lixo” e “mito”, Bolsonaro pediu espaço para seguir e falou sobre os números no contrato da vacina.
“Não tem cabimento [as suspeitas], é uma coisa absurda, uma história fantasiosa. Só serve a Renan Calheiros. Só serve ao Omar Aziz ou aquele deputado Randolfe [Rodrigues, da Rede] lá do estado dele. Mais nada”, disse, referindo-se aos senadores da CPI que apura a condução do governo da pandemia.
Sobre se havia respondido ou pretendia responder aos questionamentos enviados pela comissão, Bolsonaro respondeu que não. “Não tenho obrigação de responder. Ainda mais carta para três bandidos. Eu vou responder para ladrões, bandidos? Não vou responder”, afirmou ele.
Depois de cumprir agenda na Serra Gaúcha na sexta-feira, o presidente chegou a Porto Alegre neste sábado, onde realiza uma motociata com apoiadores.
Mais uma vez, Bolsonaro apareceu em cima da motocicleta sem máscara, medida obrigatória durante a pandemia do novo coronavírus. A Brigada Militar, polícia militar gaúcha, não informa estimativas de público, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul.
No início deste mês, a ministra Rosa Weber, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou a abertura de inquérito contra Bolsonaro para apurar se ele cometeu o crime de prevaricação ao ignorar denúncias de irregularidades acerca das negociações para compra da vacina Covaxin.
A magistrada também autorizou que a Polícia Federal colha depoimento do chefe do Executivo. A magistrada atendeu pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República) para investigar o caso. A solicitação da Procuradoria, porém, só foi feita após pressão de Rosa Weber.
Isso porque, inicialmente a PGR havia pedido para aguardar o fim da CPI da Covid para se manifestar sobre a necessidade ou não de investigar a atuação do chefe do Executivo neste caso.
A ministra, que é relatora do caso, porém, rejeitou a solicitação e mandou a PGR se manifestar novamente sobre o caso.
Em uma decisão com duras críticas à PGR, a magistrada afirmou que a Constituição não prevê que o Ministério Público deve esperar os trabalhos de comissão parlamentar de inquérito para apurar eventuais delitos.
A suspeita sobre a compra de vacinas veio à tona em torno da compra da vacina indiana Covaxin, quando a Folha revelou no último dia 18 o teor do depoimento sigiloso do servidor Luis Ricardo Miranda ao Ministério Público Federal, que relatou pressão “atípica” para liberar a importação da Covaxin.
Em depoimento, o servidor e seu irmão disseram à CPI que alertaram Bolsonaro sobre as supostas irregularidades. Sobre isso, o presidente diz apenas que não tem como saber o que acontece nos ministérios.
O Globo