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Em meio à investigação contra a igreja em Angola, Bolsonaro se movimenta para ajudar a Universal; entenda caso

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Uma crise em Angola envolvendo a igreja Universal do Reino de Deus vem mobilizando há duas semanas o presidente Jair Bolsonaro e o ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto França, para evitar o rompimento da aliança da denominação evangélica com o Planalto.

Integrantes da instituição fundada pelo bispo Edir Macedo foram indiciados no início do mês por lavagem de dinheiro após denúncias de pastores angolanos. Além disso, dezenas de missionários não estão tendo o seu visto renovado para atuar no país onde a igreja possui 230 templos.

Depois de 34 lideranças serem deportadas da África em maio por ordem do governo de Angola, as duas principais figuras da Universal abaixo de Macedo atacaram o governo federal em veículos de comunicação ligados à igreja.

Em 14 de maio, Marcos Pereira, presidente do Republicanos, entrou ao vivo na TV Templo e classificou como um “descaso” a postura do governo diante do caso. No mesmo dia, Renato Cardoso, genro do fundador da Universal e atual número dois da igreja, falou em “decepção” com a “omissão” do governo em entrevista exibida na TV Record.

“Esse é o protesto, especialmente do povo cristão, que apoiou e faz parte da base do governo. É muito triste e decepcionante”, afirmou Cardoso no dia em que foi recepcionar no aeroporto os pastores deportados.

telefonema presidencial

O GLOBO apurou que o Planalto sinalizou a Macedo que vai se movimentar para estancar a crise em Angola. Bolsonaro, que desde o início do mandato só havia enviado uma carta ao governo angolano externando preocupação com os fatos ocorridos no país, prometeu se envolver mais no tema e telefonar a João Lourenço, presidente do país.

Já o ministro França se comprometeu a montar uma comitiva brasileira e delegá-la ao comando de Marcos Pereira. O dirigente partidário quer ser recebido no país para atuar diplomaticamente no conflito. Procurado, Pereira confirmou que o governo começou a atender às demandas da igreja e que a relação “mudou da água para o vinho” nos últimos dias.

A crise em Angola teve início em 2019, quando cerca de 300 bispos e pastores locais se rebelaram contra a direção brasileira da Universal. O grupo tornou públicas acusações contra a igreja, como lavagem de dinheiro, sonegação e imposição de vasectomia às lideranças evangélicas.

Dois anos depois, as denúncias tornaram-se os elementos centrais das peças de acusação do governo angolano contra a igreja. No início do mês, o Serviço de Investigação Criminal de Angola acusou quatro líderes da Universal de lavagem de dinheiro e associação criminosa, entre eles o ex-homem forte da TV Record no Brasil, Honorilton Gonçalves. Ao desembarcar em Angola, Marcos Pereira pretende resolver diplomaticamente a crise e impedir novas deportações.

Risco de rompimento

As reclamações públicas de lideranças da Universal este mês acenderam o alerta do Planalto por coincidir com dois gestos recentes de Pereira que indicavam a possibilidade de ruptura da aliança. No fim de abril, o presidente do Republicanos teve um jantar com Guilherme Boulos, do PSOL, o que causou incompreensão na base aliada. Dias depois, Pereira publicou um texto no site Poder 360 em que parecia dar um recado a Bolsonaro: “Não podemos mais imaginar que um presidente da República, um governador ou um prefeito devam governar apenas para 30% de seguidores”, escreveu, como se fizesse referência ao percentual de apoiadores que o governo costuma ter em média nas pesquisas de opinião desde o ano passado.

A aliança de Bolsonaro com Edir Macedo foi selada na reta final do primeiro turno das eleições de 2018, quando o bispo retirou o apoio a Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e passou a apoiar o então candidato do PSL. Desde então, embora tenha emplacado recentemente o deputado João Roma (Republicanos-BA) no Ministério da Cidadania, a igreja já manifestou outros incômodos com a postura de Bolsonaro na relação. Uma das convicções abordadas internamente é a de que o presidente não se empenhou devidamente no ano passado pelas campanhas de Celso Russomano, em São Paulo, e Marcelo Crivella, no Rio.

As articulações de Bolsonaro mirando a continuidade das boas relações com a Universal têm como pano de fundo uma questão central: embora tenha índices de aprovação popular acima da média entre os evangélicos, a última pesquisa Datafolha divulgada há duas semanas mostra um empate técnico entre Lula e Bolsonaro no segmento (35% a 34%, respectivamente).

Enquanto aliada do PT, a Universal se expandiu na África. Relatos em vídeo disponíveis na internet mostram Crivella agradecendo a Lula por enviar cartas de apresentação de pastores a governos de diversos países, além de ter articulado a reabertura da igreja na Zâmbia, de onde havia sido expulsa em 1995.

 

O Globo

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