Número dois do Ministério da Saúde durante a gestão do general Eduardo Pazuello, o coronel do Exército Elcio Franco informou à Pfizer, em um e-mail encaminhado em novembro do ano passado, que enfrentava problemas para analisar a proposta do laboratório para venda de vacinas contra a Covid-19 ao governo brasileiro devido a um vírus na rede de computadores da pasta.
A cópia do e-mail foi enviada à CPI da Covid e obtida pela TV Globo. Em novembro, o Ministério da Saúde disse ter encontrado indícios de que os sistemas da pasta tinham sido alvos de ataques cibernéticos. Houve intermitência e até queda nas bases de dados da pasta. O secretário disse não ter recebido os anexos com dados logísticos sobre a vacina.
Elcio Franco foi convocado para depor na CPI. O depoimento estava marcado para acontecer na próxima quinta (27), mas foi adiado porque o ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde se recupera de infecção por Covid-19.
“Informo que, em virtude de um problema de vírus em nossa rede do Ministério da Saúde, estamos com uma série de dificuldades de conexão em rede e abertura de e-mails, o que dificultou ou até impediu o acesso aos arquivos enviados até a presente data, assim como sua respectiva análise”, escreveu Franco em 10 de novembro do ano passado.
“É com imensa alegria que compartilho a notícia que acaba de ser divulgada globalmente pela Pfizer hoje. Dados da primeira análise realizada do estudo de fase 3 da nossa potencial vacina contra a COVID-19 indicam uma taxa de eficácia acima de 90%, 7 dias após a segunda dose. Isso significa que a proteção é alcançada 28 dias após o início da vacinação, que consiste em um esquema de 2 doses, sendo que não houve nenhuma preocupação séria de segurança”, escreveu um dos diretores da farmacêutica.
Também havia proposta atualizada com o quantitativo de doses oferecidas ao Brasil e a quantidade adicional como opção de compra no segundo semestre. O diretor alerta no e-mail sobre a necessidade de “confirmação urgente” por parte do governo brasileiro do “número de doses a ser considerado no segundo semestre.
“Devido às notícias de hoje, a procura de doses está aumentando, e se não respondermos em breve, outros países que estão na iminência de fechar um acordo estão propensos a solicitar mais doses, o que incluiria as que estão agora alocadas para o Brasil no primeiro semestre. Por isso nossa urgência”, diz o diretor da Pfizer.
Em 11 de novembro, um dia após Franco responder à Pfizer que enfrentava problemas nos computadores do Ministério da Saúde, o presidente da Pfizer no Brasil, Carlos Murillo, enviou uma oferta atualizada de venda de vacinas ao governo brasileiro.
A comunicação aconteceu depois de Murillo ter conversado com o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, por telefone. A conversa foi intermediada pelo então Secretário de Comunicação Fabio Wajngarten.
Em janeiro de 2021, a Pfizer divulgou uma nota na qual diz que, em 15 de agosto de 2020, ofereceu ao governo brasileiro a possibilidade de comprar um lote de 70 milhões de doses de sua vacina contra a Covid-19, com entrega prevista a partir de dezembro de 2020.
Em 8 de março de 2021, a nova presidente da Pfizer no Brasil, Marta Díez, enviou ao governo brasileiro e-mail com uma nova oferta: 14 milhões de doses no segundo trimestre de 2021 e 86 milhões de doses no terceiro trimestre.
Na resposta, o gabinete da Secretaria-Executiva do Ministério da Saúde diz à presidente da Pfizer no Brasil que “os anexos mencionados não vieram na mensagem”.
“O conteúdo abordado estava no corpo do próprio e-mail, no qual mencionamos o cronograma que está sendo avaliado para 2021, bem como solicitamos confirmação por escrito de que o Brasil aceitará os termos do contrato enviado ao Ministério da Saúde em 15 de fevereiro”.
G1