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ENCURRALADO: Centrão pressiona Bolsonaro após promessa de criar mais ministérios

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Um dia após dizer que não fará uma ampla restruturação do seu primeiro escalão, o presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que considera recriar três ministérios, atualmente com status de secretarias: Cultura, Esportes e Pesca. Lideranças do Centrão, que negociam cargos em troca do apoio ao governo, afirmam que as mudanças serão pontuais, mas que as promessas feitas pelo Palácio do Planalto serão cobradas.

Leia:Do plano de 15 ministérios à aliança com o centrão: relembre as promessas da campanha de Bolsonaro

Bolsonaro adiantou que esse tema pode ser tratado caso seus aliados sejam eleitos para comandar o Congresso. O governo trabalha para eleger na segunda-feira Arthur Lira (PP-AL) na Câmara e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) no Senado. O presidente, que na campanha eleitoral prometeu diminuir os ministérios de 29 (na gestão Michel Temer) para 15, se antecipou a possíveis críticas, dizendo que não há problema em aumentar o número, “porque o Brasil é um país muito grande”. O governo começou com 22 pastas e em junho do ano passado foi recriada a das Comunicações para entregar ao deputado Fábio Faria (PSD-RN).

A declaração ocorreu durante cerimônia de planejamento dos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs), no Palácio do Planalto. O evento foi fechado para a imprensa, mas transmitido ao vivo por alguns dos presentes. No início do seu discurso, Bolsonaro elogiou três secretários presentes: Marcelo Magalhães (Esportes), Mário Frias (Cultura) e Jorge Seif (Pesca). O presidente disse que, se tivesse tomado posse hoje e conhecesse melhor os três subordinados, manteria essas áreas com status de ministérios.

— Eu queria que hoje eu tivesse sido eleito presidente. Porque algumas coisas a mais eu faria, outras eu não faria. Por exemplo, eu tenho três secretários, Marcelo, que se eu soubesse do potencial de vocês, se eu tivesse mais conhecimento, com profundidade, seriam ministério — disse, citando em seguida os três secretários nominalmente.

— Se tiver um clima no Parlamento, pelo o que tudo indica as duas pessoas que, né (deputado) Luiz Lima, que nós temos simpatia devem se eleger, não vamos ter mais uma pauta travada, a gente pode levar muita coisa avante quem sabe até ressurgir os ministérios, esses ministérios.

Integrantes do governo minimizaram a fala do presidente e dizem que não há nenhum estudo sobre a recriação destas pastas. De acordo com um auxiliar do Planalto, a fala de Bolsonaro era apenas um elogio aos três secretários. Jorge Seif é presença constante no Palácio da Alvorada e nas lives presidenciais. Mário Frias chegou ao governo em junho do ano passado e agradou o presidente com discurso alinhado à militância. Já Marcelo Magalhães foi bastante elogiado pelos atletas durante o evento em que estava.

Outro indício de que, apesar de externar a vontade de recriar os ministérios, o plano não é imediato é que a Secretaria Especial de Esporte, hoje no Ministério da Cidadania, pode ir para o Ministério do Turismo, comandado por Gilson Machado. A mudança já está sendo debatida no Planalto. Na última segunda-feira, o secretário, que é próximo do ministro do Turismo, almoçou com o presidente.

Se ocorrer, a transferência do Esporte entre as duas pastas deve acontecer juntamente com a saída de Onyx Lorenzoni do comando do Ministério da Cidadania. Onyx, que teve a permanência ameaçada no governo, está cotado para assumir a Secretaria-Geral da Presidência após ter atuado para que Arthur Lira ganhasse apoio do DEM. O movimento criou um racha no partido de Rodrigo Maia (DEM-RJ) — o presidente da Câmara é fiador da candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP).

Já o Ministério da Cidadania está prometido para o Republicanos, como o GLOBO mostrou ontem. O partido, que abriga dois filhos do presidente e é ligado à Igreja Universal, já debate abertamente quem ficará com o posto. O governo deseja que o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), fique com o ministério, mas a legenda avalia os nomes de Jhonatan de Jesus (RR), atual líder do partido na Câmara, e do deputado João Roma (BA).

Anteontem, Bolsonaro negou que vá fazer uma ampla reforma. Disse que de todos os ministérios, o único local em que pode haver mudança é na Secretaria-Geral da Presidência, que vem sendo ocupada interinamente pelo subchefe de Assuntos Jurídicos, Pedro César Nunes, desde que Jorge Oliveira deixou o governo para assumir uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU). O presidente chegou a dizer que poderia até efetivar o interino.

Lideranças do Centrão afirmam que as mudanças não devem ser amplas, mas esperam que elas ocorram conforme acertado com os partidos. Um líder, em conversa com O GLOBO, mencionou que promessas não cumpridas podem ter consequências. O governo aposta na distribuição de cargos e emendas para ter o Congresso ao seu lado.

Sobrevida de Pazuello

Segundo interlocutores do Planalto, a negociação para emplacar aliados no comando do Congresso ajudou a fortalecer o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos. Alvo de críticas internamente, ele trabalhou para reverter votos de deputados, inclusive de DEM, em favor de Lira.

Nesta semana, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que uma reforma deve acontecer em fevereiro e estimou como possibilidade uma troca no ministério das Relações Exteriores, com a saída de Ernesto Araújo. Bolsonaro, porém, deu demonstrações públicas de apreço pelo chanceler e criticou a declaração do vice.

— O que nós menos precisamos é de palpiteiro no tocante à formação do meu ministério. Deixo bem claro: todos os 23 ministros eu que escolho e mais ninguém e ponto final — disse o presidente, anteontem.

Já o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, segundo interlocutores do governo, ganhou uma sobrevida. O Planalto deseja debelar antes a crise em Manaus (AM) e em cidades do Norte do país que sofrem com falta de oxigênio para pacientes com a covid-19. A intenção é que Pazuello se mantenha no posto até conseguir dar um fluxo à vacinação contra o coronavírus.

A pasta é alvo de interesse do Progessisstas, partido do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PR). O parlamentar nega que tenha interesse em assumir o posto, mas já tem sido chamado a opinar sobre os problemas da Saúde. Dentro da legenda, também há questionamentos se vale a pena assumir o posto em plena pandemia.

 

O Globo

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