Enquanto países europeus e asiáticos começam a vacinar suas populações, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, disse em reunião virtual com governadores que a Anvisa ainda vai demorar 60 dias para aprovar o uso de qualquer vacina contra a Covid-19. Ele bateu boca com Doria na reunião.
O encontro, na manhã e início da tarde desta terça-feira (8), foi tenso. O general bateu boca com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), sobre a falta de interesse do governo federal na CoronaVac, o imunizante chinês que será formulado e também produzido pelo Instituto Butantan, informam Igor Gielow eRicardo Della Coletta, na Folha de S.Paulo.
Doria questionou Pazuello sobre possíveis razões político-ideológicas para o governo federal não comprar a CoronaVac. Em sua intervenção, o governador de São Paulo ressaltou que o Ministério da Saúde já se comprometeu a gastar R$ 1,9 bilhão com a vacina da AstraZeneca, R$ 2,5 bilhões com o consórcio Covax Facility, iniciativa da ONU e OMS para o desenvolvimento de vacinas, mas não investiu nenhum real na CoronaVac.
Participam do encontro presencialmente os governadores Wellington Dias (PT-PI), Fátima Bezerra (PT-RN), Paulo Câmara (PSB-PE) e Gladson Cameli (PP-AC). Outros governadores acompanham o encontro por videoconferência.
Os chefes de governo estadual cobram um plano nacional de imunização. Ao chegar no Planalto, Cameli disse que não é viável esperar até março para a vacinação dos brasileiros.
“Se os países da Europa começaram agora [a vacinar], esperar até março não tem justificativa. Por isso que eu estou dizendo: estou vendo plano B e C para que, caso necessite comprar e se tiver quem venda, eu consiga fazer esse processo”, declarou.
Doria questionou Pazuello diretamente: “A vacina CoronaVac não teve nenhum investimento feito pelo governo federal. Ela também ainda não foi aprovada. O que difere, ministro, a condição e sua gestão como ministro da Saúde de privilegiar duas vacinas em detrimento de outra vacina? É uma razão de ordem ideológica, política ou de falta de interesse em disponibilizar mais vacinas, sendo que, no total, temos 300 milhões de doses para sair a partir de fevereiro do próximo ano, sendo que vamos precisar de mais de 400 milhões de doses da vacina. Se é fato que o senhor tem as vacinas, porque não iniciar imediatamente a vacinação dos brasileiros?”
Pazuello não respondeu ao questionamento e preferiu atacar Doria afirmando que o Butantan não seria do governo do Estado de São Paulo (uma afirmação falsa): “Já falei para todos os governadores: a vacina do Butantan não é do estado de São Paulo, é do Butantan. Não sei porque o senhor fala tanto como se fosse do estado. Ela é do Butantan. É a maior fabricante de vacina do nosso país. E é respeitado por isso. O Butantan, quando concluir o seu trabalho e tiver com a vacina registrada, nós avaliaremos a demanda e, se houver preço, vamos comprar. Os registros são de cartório e havia uma demanda, havendo preço, todas as condições serão de nossa compra.”