Pivô, ao lado do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), do julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a legalidade da reeleição no comando do Legislativo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem participado de articulações sobre seu sucessor e dito,nos últimos meses, que não será candidato — o que não diminui as especulações sobre uma tentativa de um quarto mandado. Nesta entrevista, concedida ontem, primeiro dia do julgamento no plenário virtual, o deputado pela primeira vez não descartou a possibilidade, preferindo dizer que se pronunciará quando o tribunal encerrar o caso. Ele comentou ainda as perspectivas para 2022, tanto no plano nacional quanto no governo do Rio.
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O senhor tem planos de concorrer à Presidência da Câmara, independentemente do julgamento no Supremo?
Eu não acho correto me manifestar sobre esse assunto enquanto o julgamento estiver ocorrendo. A única coisa que eu tenho certeza é que a Câmara precisa ter um presidente com alguma independência dentro da instituição, priorizando as agendas de reforma do país. O próximo presidente terá que ter o perfil de ser liberal na economia.
Mas o senhor descarta a possibilidade de tentar se reeleger mais uma vez, ou mantém algum desejo disso?
No meio de um processo como esse, eu preciso me resguardar, não digo uma coisa nem outra. Gosto de dar resposta para tudo. Mas no meio de um processo como esse, darei minha opinião sobre o assunto depois.
A pauta da Câmara está travada. Quais são as perspectivas?
A questão é que nesse período eleitoral a oposição obstruiu a pauta da Câmara, querendo votar a Medida Provisória do auxílio emergencial. Já a base do governo obstruiu a pauta porque antecipou o processo eleitoral na Câmara. Para desobstruir a pauta eu tinha que votar a Medida Provisória do auxílio emergencial, que, dentro do processo eleitoral, o resultado poderia ser ainda acima dos R$ 600. Minha decisão foi não colocar em risco o processo fiscal do Brasil. Esta semana vamos votar os projetos que resolvem a questão da dívida dos estados. No caso da reforma tributária, vamos nos mexer para ter ao menos no final do ano o primeiro turno aprovado. A única preocupação que tenho é que não vi preocupação do Senado com a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) emergencial, que regulamenta os gastos do governo e garantiria o Bolsa Família. Promessa feita há um ano pelo governo.
O senhor foi um aliado do presidente Michel Temer em seu primeiro mandato na Câmara e antagonizou com Bolsonaro nos últimos dois anos…
Talvez a experiência que eu tenha passado no governo do presidente Michel Temer me deu condições para enfrentar um ano de 2019 até meados de 2020 muito radicalizado, com muitas ameaças às instituições, ao Parlamento e ao Judiciário. Talvez essa experiência tenha me dado condições de frear o ímpeto autoritário de pessoas do governo. E de compreender que a Reforma da Previdência não poderia de forma nenhuma ser prejudicada por aquele ambiente: a tentativa de tomada do Parlamento pelo entorno do presidente da República.
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A que se refere especificamente?
O que passei acho que ninguém passou na política brasileira. Tive que reforçar a segurança da presidência da Câmara, a minha e a da minha família. Não foram poucas as ameaças de morte que eu e minha família recebemos, inclusive minha filha mais velha no Rio. Não foi pouco o tensionamento da minha filha de 13 anos, que fez 14 agora, a ponto de ela pedir a senha para apagar o número enorme de ameças e ataques pessoais à minha pessoa. Não foram poucas as mobilizações feitas pelos bolsonaristas, na porta do meu apartamento no Rio para me constranger. Em um dia, foram mais de um milhão de tuítes contra a minha pessoa. Eu tinha a convicção de que fazia a coisa certa: estava defendendo a independência da Câmara e fazendo contrapontos aos excessos do próprio presidente.
De zero a dez, qual a chance de se candidatar ao governo do Rio em 2022?
Hoje é zero (risos). Como a eleição não é hoje… No curto prazo não tenho essa certeza. O Rio é fundamental para que o Brasil volte a crescer. O DEM tem que valorizar os melhores quadros. E nunca governou o Rio.
Há chance de o governador Cláudio Castro ir para o DEM?
Não sei. Nunca conversei com ele sobre isso. Não sei o movimento político dele, se será mais ao centro ou de maior proximidade com o presidente Bolsonaro em algumas matérias, até pela dependência do governo estadual. Mas o mais importante é que deixemos 2022 de lado por ora e que ele possa ter o apoio de todos, para tirar o Rio da situação em que está.
Qual o cenário que o senhor vê para 2022?
O caminho de centro continua aberto. O que é necessário é uma grande aliança de centro. Que haja maturidade. Acho que temos nesse campo uma grande convergência em grandes assuntos. O importante é que que consigamos discutir a questão econômica. Há nomes como (João) Doria, (Luciano) Huck, Paulo Câmara (governador de Pernambuco).
E o Moro?
Ele não é mais candidato. É consultor da Odebrecht.
O Globo