Pano de fundo e ao mesmo tempo protagonista de uma eleição sob muitos aspectos atípica, a pandemia de coronavírus fez o país registrar em 2020 recorde de abstenção, que ultrapassou 30% em várias capitais. Com divulgação muito atrasada em relação a anos anteriores, o resultado das urnas foi marcado por algumas novidades políticas: a dominância da política tradicional, com muitas vitórias de candidatos conhecidos; o mau desempenho daqueles apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro; e uma certa renovação de quadros na esquerda.
A eleição no Rio é um bom exemplo de cidade onde a onda antipolítica de 2018 não se repetiu. O segundo turno será disputado entre os dois candidatos mais conhecidos: o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) e seu sucessor, Marcelo Crivella (Republicanos), que tenta a reeleição.
A eleição paulistana, também segundo as pesquisas da boca de urna e o começo da totalização dos votos, concentra ao mesmo tempo as três principais resultantes políticas da eleição: o atual prefeito Bruno Covas, em primeiro lugar, é um nome tradicional da política; Guilherme Boulos, do PSOL, a maior surpresa do domingo, foi um dos candidatos jovens de esquerda que conseguiram bom resultado; e Celso Russomanno (Republicanos) caminhava para um grande fracasso mesmo com o apoio de Bolsonaro.
O presidente, aliás, não foi um bom padrinho, embora seu apoio tenha sido relevante para que Crivella conseguisse chegar ao segundo turno no Rio. Além de Russomanno, fazer campanha apregoando proximidade com Bolsonaro não foi bom negócio para a Delegada Patrícia (Podemos) no Recife; para Bruno Engler (PRTB) em Belo Horizonte; ou para Coronel Menezes (Patriota) em Manaus.
Voto da “segurança”
O desempenho de Boulos em São Paulo não foi o único em que um quadro jovem da esquerda ganhou protagonismo. Em Porto Alegre, Manuela D’Ávila (PCdoB) chegou, em segundo lugar, ao segundo turno, que em Recife será disputado por Marília Arraes (PT) e João Campos (PSB), outros nomes de renovação.
Além da abstenção maior já esperada por causa do medo de votar em meio a uma pandemia, outro reflexo da crise sanitária pevisto era a preferência por candidatos mais conhecidos, numa lógica de “voto da segurança”. Belo Horizonte, Curitiba, Palmas e Campo Grande foram algumas das cidades que reconduziram os atuais gestores.
Nas últimas semanas, muitos brasileiros nas redes sociais fizeram piada com a demora na apuração e definição da eleição presidencial dos Estados Unidos. Frequentemente era citado que, no Brasil, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entregaria em poucas horas o resultado das disputas municipais, o que não ocorreu. O sistema dos computadores do tribunal falhou, e os resultados foram levados a público muito tempo depois do que em 2016.
O Globo