O teste positivo de Covid-19 de Donald Trump muda de forma drástica as últimas semanas da campanha presidencial dos Estados Unidos. O presidente agora enfrenta não apenas um problema de saúde, mas também um caos logístico e de sua equipe a cerca de um mês antes do dia das eleições.
Após a confirmação de que o teste de Trump havia dado positivo, a Casa Branca cancelou eventos políticos na sexta-feira, como um comício planejado nos arredores de Orlando, na Flórida. As viagens de campanha e arrecadação de fundos planejadas para os próximos dias — com visitas a estados-chave, como Wisconsin, Pensilvânia e Nevada — devem ser canceladas, já que o presidente permanece em quarentena na Casa Branca.
Trump se apoia em eventos políticos presenciais para arrecadar fundos e despertar entusiasmo entre seguidores, enquanto tenta ganhar terreno contra o candidato do Partido Democrata, Joe Biden, que lidera as pesquisas e a captação de recursos, em grande parte devido às políticas erráticas do presidente contra o coronavírus, que acabou por atingi-lo.
Trump esperava desviar o foco da pandemia nas semanas finais da campanha e se concentrar em sua indicada para a Suprema Corte, na recuperação econômica e nos protestos contra o racismo— questões nas quais acredita levar vantagem. Mas sem seus comícios e sem poder abordar questões que mais entusiasmam seus eleitores, fica mais difícil diminuir a distância em relação a Biden, que mantém vantagem constante de cerca de 7 pontos percentuais na média das pesquisas nacionais há algum tempo.
Agora, as próximas semanas com certeza serão dominadas por discussões constantes sobre a saúde de Trump, com foco na pandemia cuja gestão, na opinião da maioria dos americanos, foi mal conduzida pelo presidente dos EUA.
Suas preocupações políticas são agravadas pelo risco imediato do vírus para Trump, que tem 74 anos e agora luta contra uma doença que matou mais de 200 mil americanos desde fevereiro. Mesmo que o presidente permaneça assintomático, será desafiado a manter a calma no mercado financeiro durante sua recuperação.
Trump confirmou que ele e sua mulher haviam dado tido testes positivos horas depois de uma reportagem da Bloomberg News ter informado que Hope Hicks, uma das assessores mais próximas do presidente, havia contraído o vírus.
As implicações do diagnóstico do presidente também devem impactar seu adversário democrata, além de trazer uma nova variável importante em uma campanha já imprevisível.
Biden precisará decidir se também deve fazer quarentena, após ter participado de um debate com o presidente apenas 72 horas antes de seu teste positivo. Embora a campanha de Biden não tenha feito comentários imediatos sobre a infecção de Trump, seus assessores disseram que o democrata é testado regularmente e que anunciariam se ele contraísse o vírus.
O ex-vice-presidente tem uma viagem programada para Grand Rapids, Michigan, nesta sexta-feira para comentar sobre sua agenda econômica e, em seguida, participaria de um evento de mobilização de eleitores. Sua campanha não respondeu se a viagem está confirmada.
O médico de Trump disse na sexta-feira que espera que “o presidente continue realizando suas funções sem interrupções durante a recuperação”, mas as implicações do diagnóstico são de longo alcance.
Não está claro, mas é improvável que Trump possa participar do segundo debate presidencial, agendado para 15 de outubro. A campanha do presidente não respondeu de imediato um pedido de comentário sobre seus planos, mas, se Trump for obrigado a cancelar o debate, isso poderia privá-lo de uma de suas últimas oportunidades de destacar seus contrastes com Biden diante de uma grande audiência na TV.
O diagnóstico do presidente também deve ter um impacto significativo na campanha e na equipe da Casa Branca que, se seguir as diretrizes de saúde federais existentes, pode precisar ficar em quarentena pelas próximas duas semanas.
O presidente, a primeira-dama Melania Trump e Hicks viajaram com um grande grupo da Casa Branca e com a equipe da campanha para o primeiro debate presidencial na terça à noite em Cleveland. O presidente e Hicks também participaram de eventos políticos na quarta-feira em Minnesota.
Pessoas que foram vistas ao lado do presidente nos últimos dias incluem o gerente da campanha, Bill Stepien, assessores como Ivanka Trump, Jared Kushner e Stephen Miller, bem como os principais assessores de comunicação Jason Miller e Kayleigh McEnany.
“O rastreamento do contrato está sendo feito e as notificações e recomendações apropriadas serão seguidas”, disse o porta-voz da Casa Branca, Judd Deere.
O Globo