Augusto Aras, o procurador-geral de problemas, tem uma missão imediata muito clara: cortar as asas da Lava Jato, como mostram a estranha visita de Lindôra Araújo a Curitiba, o pedido para que os procuradores da Operação na capital paranaense, no Rio e em São Paulo entregassem informações sigilosas sobre investigações à PGR, sem que houvesse justificativa formal para tanto, e a sugestão descabida de que os integrantes da Lava Jato de Curitiba haviam adquirido equipamentos para realizar escutas clandestinas.
O maior golpe contra a luta anticorrupção, contudo, é o plano de Aras de criar uma unidade anticorrupção na PGR, para enfeixar todas as ações dos procuradores contra esse tipo de crime. O pretexto é otimizar os processos, mas a intenção é evitar que haja outras Lava Jato. Trata-se de um golpe, e golpe tremendo, porque essa unidade teria um coordenador nomeado pelo procurador-geral da República e todas as informações sigilosas referentes a investigações contra gente poderosa e adjacências teriam de ser compartilhadas sem autorização judicial.
Advogados de peixes graúdos adoram a ideia, sob o argumento de que a centralização das operações anticorrupção facilitaria as negociações para delações premiadas e acordos de leniência. Na verdade, ela proporcionaria interferências políticas e reduziria a autonomia de que goza cada procurador para conduzir as suas próprias investigações. Hoje, o PGR nomeia os chefes das operações, mas não tem poder para limitar as suas ações. Com a unidade comandada por um coordenador escolhido a dedo pelo PGR, a autonomia dos procuradores seria reduzida e nunca mais teríamos uma Lava Jato.
O fato de Aras ter sido nomeado por um presidente da República eleito graças à bandeira anticorrupção só torna o plano ainda mais escandaloso.
O Antagonista