O grande rumor no fim de semana em Brasília era de que o Supremo Tribunal Federal (STF) pode iniciar a semana colocando ainda mais lenha na fogueira da crise política em Brasília, determinando a prisão de aliados do presidente Jair Bolsonaro e dos filhos implicados no inquérito sigiloso aberto desde 2019 e relatado por Alexandre de Moraes que investiga uma rede de fake news tendo ministros da corte e familiares como alvos.
A queda de Maurício Valeixo da direção-geral da Polícia Federal evidenciou o desespero de Bolsonaro com o andamento do inquérito, mas deve ser pouco efetiva para conter tanto seu andamento quanto os vazamentos de suas conclusões até aqui.
No fim de semana já veio à tona que as investigações chegam muito perto de Carlos Bolsonaro. Isso gerou uma onda de boatos de que poderia haver o pedido de prisão do filho do presidente, para demonstrar de uma vez que os Poderes vão reagir firmemente a tentativas de controlar politicamente instituições como a PF.
Ao BR Político, integrantes do Supremo consideram remota essa possibilidade. Lembram que investigações como a Lava Jato, que acabaram atingindo pesos-pesados da política e levaram até um ex-presidente, Lula, à caeira, vieram em ondas de fora para dentro: primeiro caíram doleiros, depois ex-dirigentes e gerentes da Petrobrás, em seguida dirigentes de empreiteiras, em seguida seus sócios, publicitários e só então políticos de peso.
Não deve ser diferente com a investigação que apura a existência do chamado gabinete do ódio e de redes integradas por “blogueiros de crachá”, como têm sido chamados assessores pagos com dinheiro público, em cargos comissionados no Executivo ou nos Legislativos federal e estaduais para destruir reputações, ameaçar e plantar fake news contra adversários e ex-aliados do presidente e expoentes dos outros Poderes.
A investigação já está bem avançada em identificar esses assessores e os empresários por trás do financiamento do esquema. Movimentos de mobilização de atos de rua, muitos deles ligados a parlamentares da base bolsonarista, e também alguns deputados, devem ser chamados a depor, ter conduções coercitivas e buscas e apreensão aprovadas ou mesmo ter prisões preventivas decretadas antes que se chegue ao núcleo duro do clã bolsonarista.
Essas ações, que podem, sim, ser desencadeadas nos próximos dias ou semanas, serão combustível para esquentar as turbinas dos processos de impeachment contra Bolsonaro, bem como a pressão feita pelo decano do STF, Celso de Mello, para que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se manifeste sobre o porquê de não dar seguimento a esses pedidos.
Ainda nesta semana, o ministro Gilmar Mendes deve negar liminar ao pedido de Eduardo Bolsonaro para que seja impedida a prorrogação da CPMI das Fake News, que apura fatos correlatos aos do inquérito do Supremo.
Mello também deve dar os primeiros andamentos ao inquérito aberto a partir das declarações de Sérgio Moro.
A movimentação do ex-ministro também será vital para que se sinta o pulso do impeachment: caso se recolha, aliados de Bolsonaro acreditam que ele ganhará tempo para tentar se rearticular politicamente. Mas, para isso, advogam que o gabinete do ódio recue da disposição de destruir a reputação do ex-juiz. “O Moro é de briga. Se tentarem destruir a imagem dele, que foi só o que restou para ele, não vai sobrar outra opção a não ser ele vestir a capa de novo e partir para destruir o presidente”, me disse um auxiliar próximo de Bolsonaro.
Da mesma forma, existe um temor de que a escalada de casos do novo coronavírus galvanize na sociedade a avaliação de que Bolsonaro foi negligente com o combate à emergência de saúde pública e preferiu criar novas turbulências políticas e institucionais, demitindo Luiz Mandetta e forçando a saída de Moro, se aproximando do Centrão e incitando atos de cunho golpista.
Isso favoreceria um consenso, incluindo empresários, no sentido de que o presidente pode ser um fator de agravamento da emergência sanitária, social e econômica que o Brasil vai enfrentar. Por conta disso, Bolsonaro está sendo aconselhado a maneirar nas críticas ao isolamento social, à OMS e aos governadores, já que a aceleração do número de mortos e de contaminados aumentará a sensação de colapso do sistema de saúde.
Por fim, ainda são muito comuns os relatos de quem não conseguiu obter acesso à ajuda emergencial de R$ 600 aprovada há quase um mês pelo Congresso, o que ajuda a recrudescer a revolta social com o presidente e os panelaços diários contra ele.
BR Político