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1° DE ABRIL: Bolsonaro publica vídeo falso sobre risco de desabastecimento e depois apaga

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Um dia após adotar um discurso mais ameno em relação à pandemia do coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro publicou nas redes sociais um vídeo de um homem que apontava o desabastecimento na Ceasa de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, e dizia que “a culpa é dos governadores”, que, segundo ele, querem “ganhar nome e projeção política a custa do sofrimento da população”. O conteúdo do vídeo, porém, foi desmentido pela Secretaria de Agricultura de Minas Gerais que, em nota, informou que o local está funcionando normalmente. Diante da repercussão, Bolsonaro apagou a postagem.

“Não é um desentendimento entre o Presidente e ALGUNS governadores e ALGUNS prefeitos. São fatos e realidades que devem ser mostradas. Depois da destruição não interessa mostrar culpados”, escreveu Bolsonaro em texto que acompanhava o vídeo. A publicação havia sido feita no Twitter, Facebook e Instagram.

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, tem afirmado que não há risco de desabastecimento. O ministro Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura, disse na segunda-feira que a logística e o abastecimento estão funcionando.

No vídeo, gravado na terça-feira, 31, o homem saiu em defesa do presidente. “Quem não tem dinheiro passa fome. Mas quem tem dinheiro mas não tem o que comprar também passa fome. E não vamos esquecer não, a culpa disso aqui é dos governadores, viu?”, afirmou, mostrando imagens de um galpão quase vazio. “O presidente da república tá brigando incessantemente para que haja uma paralisação responsável. Não paralisar todos os setores, quem não é do grupo de risco voltar a trabalhar, ok?.”

Em nota, a Secretaria de Agricultura de Minas informou que a gravação foi feita no momento em que o local passava por limpeza, quando é esvaziado. “Ontem, 31 de março, circulou pela internet um vídeo indicando o desabastecimento no entreposto da Grande BH, localizado Contagem. A Seapa afirma que a informação é inverídica. A limpeza do Mercado Livre do Produtor (MLP), local em que o vídeo foi gravado, é realizada todas as terças, quintas e sextas-feiras, no período da tarde, e aos finais de semana. Não é permitido no momento da limpeza a permanência das caixas com os alimentos”, diz. Também em nota, a CeasaMinas disse que “não há qualquer desabastecimento em seus entrepostos, em razão do coronavírus”.

Logo após a postagem de Bolsonaro, usuários apontaram nos comentários ser mentira que a Ceasa esteja vazia e divulgaram vídeos que seriam da manhã de hoje com o local com bastante movimento.

A reportagem do Estado esteve no local. Ao lado de 150 caixas vendidas de pimentão, cada uma com dez quilos, já prontas para a entrega, o comerciário Sérgio Luiz dos Santos, 55 anos, que vende também abobrinhas e outros legumes, relata movimento normal nesta quarta, 1, no chamado MLP, Mercado Livre do Produtor, na Ceasa, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Sérgio dá uma dica do que pode ter acontecido em relação ao vídeo, replicado e depois apagado por Bolsonaro, de que não havia comércio na terça-feira, o que indicaria um suposto desabastecimento. “Às terças e quintas”, o movimento é mais fraco”, disse. O comerciário alertou ainda para o horário de funcionamento da Ceasa, que tem as manhã como período mais intenso.

Em nota, a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento disse que as informações do vídeo não são verdadeiras. “A Seapa afirma que a informação é inverídica. A limpeza do Mercado Livre do Produtor (MLP), local em que o vídeo foi gravado, é realizada todas as terças, quintas e sextas-feiras, no período da tarde, e aos finais de semana. Não é permitido no momento da limpeza a permanência das caixas com os alimentos”.

A secretaria diz ainda que está sendo realizado “monitoramento da produção agropecuária no Estado, visando identificar possíveis impactos no processo de produção e abastecimento de alimentos. O levantamento e a sistematização das informações serão acompanhados semanalmente e atualizados uma vez por mês. Ainda segundo o governo “o relatório da segunda quinzena de março, apresentado ao Comitê Extraordinário covid-19, aponta situação de normalidade, sinalizando não haver impacto significativo da pandemia, nas produções dos principais grãos (soja, milho, feijão e sorgo); café, frutas e olerícolas; e carnes (bovina, suína e aves)”.

Desde a semana passada, Bolsonaro tem feito críticas a governadores e prefeitos que adotaram medidas como fechamento de escolas, comércio e shoppings. O argumento do presidente é de que os efeitos na economia da redução de circulação de pessoas pode causar danos maiores que a doença em si. As restrições impostas nos Estados, porém, seguem orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do próprio Ministério da Saúde para estimular o isolamento social, considerado a forma mais eficaz de se evitar a propagação do vírus.

Sob pressão de seus ministros mais próximos, Bolsonaro baixou o tom ontem em pronunciamento em cadeia nacional de TV e rádio e pôs a preocupação com a “vida” no mesmo patamar que o “emprego”. Pediu, ainda, a união do Parlamento, Judiciário, governadores e prefeitos para enfrentar a pandemia. Diferentemente do pronunciamento feito na semana passada, porém, Bolsonaro não defendeu explicitamente o fim do isolamento social.

O discurso anterior em cadeia nacional de rádio e televisão, que foi ao ar há uma semana, teve a participação do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, e foi considerado um “desastre” pelos principais auxiliares do governo. Na ocasião, Bolsonaro chamou a covid-19 de “gripezinha” e defendeu que as pessoas voltassem à “normalidade” em suas rotinas.

Como revelou o Estado, a mudança no tom no mesmo dia em que Carlos ganhou uma sala no terceiro andar no Planalto foi considerado uma vitória para os auxiliares da ala mais moderada. Apesar disso, este grupo receia que a virulência nas redes seguirá sob o comando de Carlos, considerado o mais radical dos filhos do presidente. O vereador é o responsável pelo chamado “gabinete do ódio”, que controla os perfis do presidente na internet, e tem estado presente em reuniões sobre a covid-19.

 

Estadão

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