O papel de Cuba na sustentação do regime do venezuelano Nicolás Maduro será um dos principais temas a serem tratados nesta segunda-feira, em Washington, em reunião entre os vice-presidentes do Brasil e dos Estados Unidos, Hamilton Mourão e Mike Pence.
Entre os dois governos existe a convicção de que é preciso sufocar financeiramente os cubanos, hoje grandes fornecedores de Inteligência, espiões, agentes de contra-espionagem e conselheiros políticos de Maduro — o que deixaria em desvantagem o líder opositor Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional e autoproclamado presidente interino daquele país com o reconhecimento de mais de 50 nações, entre as quais os Estados Unidos e o Brasil.
Na semana passada, o próprio Pence anunciou que os Estados Unidos vão impor novas sanções contra navios e empresas que transportam petróleo da Venezuela para Cuba. A ideia é atingir os governos dos dois países, cujos regimes se apoiam mutuamente contra as pressões americanas.
Da parte do Brasil, a agenda com Havana esfriou no governo passado, com a intensificação das críticas e das suspeitas de irregularidades em obras financiadas pelo BNDES, como o porto de Mariel.
Ao mesmo tempo, o então presidente de Cuba, Fidel Castro, não reconheceu Michel Temer como presidente, por não concordar com o processo de impeachment que tirou a petista Dilma Rousseff do governo.
As relações bilaterais azedaram completamente este ano, assim que o presidente Jair Bolsonaro tomou posse. Milhares de profissionais cubanos abandonaram o programa Mais Médicos e deixaram o Brasil. Para o atual governo brasileiro, Cuba é um fator desestabilizador na América Latina.
Outro item que poderá ser tratado na reunião é a situação na Nicarágua, que forma o tripé de países considerados problemáticos nas Américas, na avaliação de fontes do governo brasileiro. O presidente nicaraguense, Daniel Ortega, é acusado por Washington de ter reprimido brutalmente manifestantes contra o seu governo, em protestos pacíficos, no ano passado.
Ainda de acordo com as fontes, Pence quer ouvir a opinião do vice-presidente brasileiro sobre a situação na Venezuela, o poderio militar do país vizinho e como seria uma transição, caso Maduro deixasse o poder. Para isso, contará com a experiência de Mourão como adido militar na Venezuela, durante o governo de Hugo Chávez. A informação é que Mourão mantém até hoje contatos com militares venezuelanos.
Evento com empresários
Mourão e Pence também também devem conversar sobre a continuidade da agenda bilateral após a visita do presidente Jair Bolsonaro aos Estados Unidos, no mês passado. Entre os exemplos, estão a concessão ao Brasil do status de aliado estratégico ex-Otan, o apoio à candidatura brasileira à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o uso da base de Alcântara, no Maranhão, pelos americanos para o lançamento de satélites.
Após o encontro com Mike Pence, previsto para começar às 16h, com duração de cerca de 40 minutos, o vice-presidente brasileiro dará uma entrevista coletiva à imprensa.
No fim da tarde, Mourão se reunirá com empresários da Câmara de Comércio Americana em uma mesa redonda, seguida de um jantar. A ideia é reforçar ao empresariado e investidores que o governo Bolsonaro está comprometido com medidas de ajuste fiscal e para reanimar a economia brasileira, como as reformas previdenciária e a tributária.
O general Hamilton Mourão passou o fim de semana em Boston, onde participou de um evento promovido por estudantes brasileiros das universidades de Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Diante de uma plateia lotada, o vice-presidente criticou governos anteriores latino-americanos, que, segundo ele, geraram crises que desestruturam as economias nacionais. Para ele, a Venezuela é um caso emblemático dessa falência:
— Ocorreu uma apropriação sistemática dos meios de produção por parte de um grupo corrupto, liderado pelo então presidente Hugo Chávez. O país foi sucateado em benefício dos integrantes do regime. A chegada de Maduro ao poder, um líder fraco e sem o carisma de seu antecessor, somente acelerou o processo de deterioração do país.
Mourão completou o raciocínio dizendo que, no Brasil, esse processo não está mais em curso desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e as últimas eleições.
O general também falou sobre as recentes mudanças de governo na América Latina e disse que a região “não está indiferente às transformações em curso no mundo”, pois “sinalizou de maneira clara e democrática” que deseja uma nova estratégia de inserção global que privilegie “a economia de mercado, o livre empreendedorismo e a proteção da propriedade privada”.
O Globo