O último debate do primeiro turno entre candidatos à Presidência na República, nesta quinta-feira (4), teve como protagonista um ausente: Jair Bolsonaro (PSL), que lidera as pesquisas de intenção de voto e foi criticado tanto por não ter comparecido, como por declarações polêmicas que ele e seu vice, Hamilton Mourão (PRTB), deram ao longo da campanha. O evento foi organizado pela TV Globo.
O debate final também foi marcado pelo tom mais enfático e agressivo de Fernando Haddad (PT), que segundo as pesquisas deve avançar para o segundo turno com Bolsonaro e viu sua distância para o candidato do PSL aumentar nos últimos dias.
Bolsonaro não compareceu ao debate alegando recomendação médica, por estar se recuperando da facada que levou no dia 6 de setembro. No entanto, no mesmo horário do debate, apareceu em entrevista gravada para a Record TV, o que motivou ataques de Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Henrique Meirelles (MDB).
Marina disse que Bolsonaro “mais uma vez amarelou, está dando entrevista na Record e não veio aqui debater”.
Já Ciro e Meirelles fizeram “dobradinha” no ataque à ausência do candidato do PSL. Ciro lembrou as críticas de Mourão, vice na chapa de Bolsonaro, a direitos como o 13º salário e o adicional de férias, e a declarações controversas do economista Paulo Guedes sobre criação de impostos.
“E o Bolsonaro quando vê a repercussão dessas coisas todas, nega para a imprensa”, disse Ciro. “Eu já ouvi o Bolsonaro dizendo que o brasileiro tem que optar entre empregos e direitos.”
Já Meirelles disse que Bolsonaro fugiu “de seu compromisso com a população”. Para o emedebista, “se alguém se esconde, se alguém não aparece, e só vai dar entrevista numa situação de controle, amigável, significa Haddad parte para o ataque
Fernando Haddad fez um ataque direto ao adversário, quando buscou associar Bolsonaro ao governo de Michel Temer (MDB), que tem rejeição recorde por parte da população, e disse que o candidato do PSL “veio com a ideia de cortar 13º, abono de férias, cobrar Imposto de Renda dos pobres que são isentos, cortar o Bolsa-Família e introduzir a CPMF”.
O petista também se voltou contra Alckmin, dizendo que o partido “se associou ao Michel Temer para sabotar o governo, aprovando as chamadas pautas bombas, gastos desnecessários, aumento para cúpula do funcionalismo público, um absurdo”. Como em outros debates, Alckmin rebateu afirmando que quem escolheu Temer como vice foi o PT, “duas vezes”.
As tentativas de associar adversários a Temer ocorreram em diversos momentos ao longo do debate. Ciro, Marina, e Alvaro Dias lembraram que Meirelles fez parte da gestão Temer, que aprovou a reforma trabalhista. O candidato do MDB se limitou a dizer que é Ficha Limpa e que existem “alguns pontos” da nova legislação trabalhista que devem ser corrigidos.
O momento mais duro de Haddad, porém, foi em resposta a Alvaro Dias. Ao se apresentar e depois, ao fazer uma pergunta ao petista, o candidato do Podemos afirmou que levara uma carta endereçada ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Eu vou entregar a você a pergunta que você levará ao verdadeiro candidato do PT à Presidência da República. Porque o senhor aqui é apenas o representante dele, ele é o seu padrinho”, disse Alvaro, referindo-se a Lula como “presidiário”.
Haddad se irritou com o comportamento do adversário. “Em primeiro lugar, eu acho que o senhor deveria ter mais compostura nesse debate, o senhor não respeita tempo, não respeita seus adversários, não respeita as regras do debate, faz brincadeira com coisa séria, coisa muito séria”, esbravejou o petista.
O petista ainda saiu em defesa de outro candidato: Guilherme Boulos. Em resposta ao psolista, Henrique Meirelles insinuou que Boulos não sabia o que era trabalho, já que o candidato é líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto). Em um embate com Boulos, Haddad se solidarizou ao colega. “Você, como eu, é professor, vive do seu salário, tem orgulho da sua profissão, e muitas vezes é incompreendido por pessoas que ganharam dinheiro muito fácil no Brasil”, disse o petista.
Diante de Marina Silva, que pediu a ele uma autocrítica em nome do PT, Haddad escapou da pergunta e elencou feitos dos governos federais petistas. “Você tem agora a oportunidade de olhar para o povo brasileiro e reconhecer os erros e você não faz, você reitera todos os erros cometidos”, retrucou a candidata. O petista, por sua vez, disse que já reconheceu equívocos de gestões petistas em entrevistas e declarou: “Eu não vou jogar a criança com a água do banho”.
que essa pessoa não tem condições de administrar o país.”
O “amigável” de Meirelles foi uma alusão ao apoio a Bolsonaro anunciado publicamente por Edir Macedo, dono da Record TV e fundador da Igreja Universal do Reino de Deus.
Geraldo Alckmin (PSDB) também criticou Bolsonaro, classificando-o como “radical de direita, que não tem a menor sensibilidade” por defender que a saúde não precisa de mais dinheiro e dizendo que o adversário “quer fazer imposto novo, CPMF”.
Em linha similar, Guilherme Boulos (PSOL) afirmou que “quem quer aumentar os impostos para os mais pobres é o Jair Bolsonaro”. Só Alvaro Dias (Podemos) não criticou Bolsonaro. O candidato preferiu dedicar seus ataques a Haddad e o PT.
UOL